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A frase para se entender como oficiais de alta patente se envolvem em esquemas de golpe que a Polícia Federal afirma ter desvendado seria aquela de Bolsonaro: “o Exército é meu”. Não era nem nunca foi, mas os comandantes militares deixaram parecer que fosse.

Jair Bolsonaro recebe os cumprimentos do então Comandante de Operações Especiais, general Mário Fernandes Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República

É consenso hoje que o Alto Comando do Exército jamais apoiou nem cultivou a hipótese de golpe para manter o capitão Jair Bolsonaro no poder. Mas vários de seus integrantes sabiam da desenvoltura com que oficiais imediatamente abaixo do generalato circulavam – literalmente – pelos corredores do poder espalhando ideias desse tipo.

“Quem faz a cabeça dele”, dizia, referindo-se a Bolsonaro, um general que integrava o círculo íntimo do poder, “são esses malucos de ajudantes de ordens, assessores e coronéis”.

Quanto a cabeça de Bolsonaro incentivou esses oficiais de alta patente a dizer o que ele gostaria de ouvir ou se ele mesmo os “liderou” só se saberá quando a denuncia da PGR for julgada e as provas examinadas. O ímpeto político de oficiais nesse segmento é um “clássico” fartamente examinado na literatura e nos livros de História.

Especialmente sua capacidade de pressionar, peitar ou até criar fatos consumados para os próprios superiores. Essa era, aliás, uma das grandes preocupações do então comandante do Exército, General Villas Boas, quando numa mesma manhã, em 2018, um magistrado mandou soltar Lula e outro mandou deixá-lo na cadeia. “Um coronel cabeça quente estaciona um jipe bloqueando a carceragem em Curitiba e ninguém mais controla a situação”, comentava.

O problema abrangente que transpira do material até aqui revelado pelas investigações da PF não tem a ver apenas com “cabeças quentes” fardados e armados. É o clima “pervasivo” de degradação institucional do qual Bolsonaro virou o retrato 3 x 4. E que arrastou oficiais bem treinados.

O indivíduo Bolsonaro terá de enfrentar agora uma dificílima batalha jurídica para escapar de condenação e prisão, enquanto permanece inelegível. Talvez se console na constatação de seguir influenciando um nutrido grupo de eleitores, não importa o que se diga ou revele sobre ele.

Quanto ao “seu” exército, os danos da politização ainda estão sendo consertados, uma lição que se julgava que tinha sido aprendida.