O ambiente escolar é frequentemente o primeiro espaço onde as crianças experienciam o impacto da diversidade e suas implicações na sociedade. Isso também significa que elas podem ter seus primeiros contatos com o racismo —seja sofrendo, testemunhando ou até praticando. Alunos enfrentam zombarias por causa do cabelo crespo ou da cor da pele. Práticas racistas podem vir diretamente dos educadores, que, conscientemente ou não, favorecem crianças brancas, baseando-se em estereótipos profundamente enraizados.
Esses fatos reforçam a urgência de uma educação antirracista, capaz de combater discriminações cotidianas, com o objetivo final de transformar realidades. Foi nesse contexto que o livro “Como Ser um Educador Antirracista”, de Bárbara Carine, destacou-se ao vencer o Prêmio Jabuti 2024 na categoria Educação. A premiação, realizada em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, simboliza o primeiro ano do feriado nacional, celebrando uma luta histórica por reconhecimento e igualdade.
A educação antirracista busca desconstruir preconceitos arraigados e promover o respeito às diversas culturas. Para praticá-la, o trabalho vai além das salas de aula e deve envolver toda a comunidade escolar. Embora um professor antirracista desempenhe um papel fundamental na formação dos alunos, isso por si só não é suficiente.
É essencial que gestores, funcionários e todo o corpo docente estejam alinhados na luta antirracista, qualquer que seja sua etnia. Imagine, por exemplo, que os alunos sejam expostos simultaneamente a um educador que apresenta e valoriza a literatura africana e a outro que sugere a supremacia da ciência eurocêntrica. A valorização da diversidade precisa estar presente em todas as áreas.
A escritora premiada com o Jabuti se autodenomina “intelectual diferentona”, mas sua atuação não se limita à contribuição com a intelectualidade. Ela coloca seus conhecimentos em prática por meio da Escola Maria Filipa, que idealizou e fundou. Esta é a primeira escola afro-brasileira no Brasil. A instituição propõe uma educação que valoriza a pluralidade cultural brasileira, com forte ênfase nos marcos civilizatórios africanos e indígenas. Com práticas pedagógicas inovadoras, como a criação de um calendário decolonial que integra datas comemorativas indígenas, africanas e europeias, a escola rompe com o currículo eurocêntrico tradicional e se propõe a ser um espaço de ressignificação e valorização identitária.
A escola fundada por Carine não é contra brancos, assim como a luta antirracista não busca que apenas negros estejam representados e valorizados. A educação antirracista, proposta por Carine e por tantos educadores Brasil, é inclusiva, de forma que todas as crianças se sintam representadas, independentemente de suas origens étnico-raciais.
Mais do que ensinar, as escolas devem ser espaços transformadores. Por meio de ações práticas de revisão de currículo, formação de educadores e práticas pedagógicas que celebram a diversidade e combatem o racismo, é possível reverter desigualdades históricas e construir uma sociedade mais justa. Investir na educação antirracista não é apenas uma necessidade educacional: é uma questão de justiça histórica e social. Que o Prêmio Jabuti e o Dia da Consciência Negra deste ano inspirem mais educadores a seguir esse caminho.
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