O encontro desta semana entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o líder da China, Xi Jinping, joga alguma luz adicional sobre as oportunidades nas relações econômicas entre o Brasil e a ditadura comunista que responde pelo segundo maior PIB do planeta.
Os chineses ainda detêm uma participação relativamente pequena, mas em crescimento rápido do investimento estrangeiro existente aqui —de 1% do total no começo da década passada, foi a 5% em 2022, dado mais recente, atrás de Estados Unidos (29%), Espanha, Reino Unido e França (todos com 6%).
Em particular desde o acirramento do conflito econômico com os EUA, em 2018, o capital do gigante asiático procura cada vez mais países emergentes.
Com a volta de Donald Trump à Casa Branca, tal tendência pode se acentuar. Embora a operação seja diplomaticamente complicada, o Brasil terá a chance de se esgueirar entre os tiros trocados pelas duas potências.
O fluxo total de investimento direto estrangeiro aqui equivaleu a 3,2% do PIB nos últimos 12 meses. Trata-se de nível não exuberante, mas suficiente para cobrir o déficit nas transações de bens e serviços com o exterior, que chegou a 2,1% do PIB.
Esse déficit está em alta, em parte por causa do aquecimento da demanda interna e das remessas maiores de lucros e juros, além da novidade dos gastos com “streaming”, aplicativos e até apostas online.
O preço das exportações —das commodities— cai. O país importa mais insumos industriais e produtos manufaturados, como veículos (aliás, na maioria chineses, neste ano). Um eventual superaquecimento da economia elevaria o déficit externo e demandaria mais cobertura por meio de investimentos diretos.
Peso ainda mais relevante tem o comércio externo. A soma de importações e exportações brasileiras, que equivalia a algo em torno de 15% do PIB no início do século, chegou perto de 20% na década passada e a até 30% no ano excepcional de 2023, estando ora em 27%. Boa parte dessa mudança benfazeja se deveu ao aumento do consumo chinês.
Será muito difícil mudar tão cedo o padrão de comércio com a China —a troca de commodities por bens industrializados. O risco, de fato, é que sobrevenha inundação ainda maior de produtos do país asiático, barateados devido a excedentes grandes.
Já o perfil do investimento no Brasil é passível de mudança. Concentrado até aqui em eletricidade e petróleo, pode se dirigir mais a infraestrutura e a manufaturas, como a de veículos.
Para que receba mais aportes, de quaisquer outros países, o Brasil precisa de mais que habilidade na política externa. O essencial é estabilidade econômica com crescimento regular, menos custos para produzir e incentivo adequado à transformação tecnológica. Crescer com auxílio do capital externo depende de ordem e inovação domésticas.
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