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A COP29 já começou em um cenário no mínimo complicado: realizada em um país petroleiro, em um ambiente marcado pela repressão a protestos e pela presença massiva de lobistas do setor de petróleo e gás — em número suficiente para formar a “quarta maior delegação” da conferência. Se falta dinheiro para as petroleiras investirem na transição energética, talvez o RH precise rever os gastos com coffee breaks.

O grande desafio deste ano foi decidir quem paga a conta da crise climática. Os países em desenvolvimento precisam urgentemente de pelo menos US$ 1 trilhão (R$ 5,79 trilhões) por ano para lidar com a crise. Esse valor é essencial tanto para compensar perdas e danos já causados quanto para investir em soluções de adaptação, como energia solar, sistemas de irrigação e a proteção de cidades contra inundações.

O problema, claro, é que essa quantia não aparece do nada. A proposta na mesa, chamada de Nova Meta Global Quantificada de Financiamento Climático (NCQG, na sigla em inglês), exige que os países historicamente responsáveis pelas emissões — e que mais lucraram com elas — assumam essa dívida climática. A lógica é clara: quem mais contribuiu para o problema deve arcar com os custos de sua solução. Parece simples, certo? Quem mais poluiu, paga. Mas a lógica esbarra na máxima do capitalismo: lucro é particular, mas os prejuízos…

Além disso, a história nos mostra que mobilizar somas trilionárias em conjunto entre nações só aconteceu em contextos um tanto menos amigáveis: guerras. Não é à toa que o problema vem se arrastando por algumas edições da conferência.

Até tivemos momentos de esperança, quando o tema ganhou destaque no G20 no Brasil e cobrou-se que essa resolução fosse definida na COP 29. Mas, na última sexta-feira (22), último dia oficial da conferência, o resultado foi frustrante: a primeira versão do texto final era fraca e ambígua, falando em apoio de bilhões quando são necessários trilhões. Além do valor baixo de recursos públicos previstos para o momento, o tom foi de mudança nas responsabilidades dos países. O que parecia promissor saiu mais como um wishful thinking da salvação climática.

Ainda estou aqui

Após o texto ter sido fortemente criticado por participantes da sociedade civil e líderes de países em desenvolvimento, as negociações atrasaram e seguiram até a noite deste sábado, no horário do Brasil (madrugada de domingo em Baku). O evento se esvaziou aos poucos, com vários negociadores das delegações tendo que ir embora — é lógico que os países mais pobres são sempre os primeiros a terem que sair.