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Caramba! O plano não é algo sob uma verdade desconhecida, que ainda precisa ser certificado pela realidade. O golpe não é fato porque não aconteceu, mas o propósito de desferi-lo está impresso numa máquina do Palácio do Planalto. Já se conhece a verdade, e ela pode libertar o jornalismo da falsa suposição e da praga do futuro do pretérito composto.

E saibam: essa é uma forma verbal, coitada!, que sofre um abuso permanente, sempre obrigada a desempenhar uma função para a qual não foi talhada. A sua companheira inseparável é uma oração condicional. “O general Mário Fernandes e Bolsonaro teriam dado golpe de estado, se o Alto Comando do Exército tivesse topado”; “Bolsonaro teria melado as eleições, se o TSE não tivesse resistido às suas investidas”… Aí, sim! Vale dizer: trata-se de algo que poderia ter acontecido no passado (pretérito), posterior (futuro em relação àquele pretérito) e condicionado a uma situação também passada, irrealizada ou hipotética, daí o subjuntivo.

O emprego do futuro do pretérito composto desacompanhado de uma condição também passada virou um vício na imprensa que serve a vários propósitos:
– fazer uma acusação sem querer se responsabilizar por ela:
“Fulano teria matado, teria roubado, teria corrompido”… Sempre se pode escapar: “Eu disse que teria, não que fez…”

– praticar “outro-ladismo” para demonstrar isenção:
“O MPF afirma que Fulano teria roubado, teria matado, teria corrompido”
Uma nota aqui: se o MPF afirma que matou, ele afirma. Isso não quer dizer que matou. A atribuição tem autoria.

Para não dar a entender, no entanto, que o jornalismo está comprando a versão de um dos lados, viola-se a regra do emprego do tempo/modo verbal e se desinforma: ora, se o MPF acusa, ele acusa fulano de fazer alguma coisa. E ponto. Quando se recorre à construção “Segundo o MPF, fulano teria feito”, desinforma-se. Segundo o MPF, ele fez.

E, claro!, a expressão mais perversa junta o futuro do pretérito composto ao adjetivo “suposto” e ao advérbio “supostamente”.