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Imagine alguém que comprou protetor solar acreditando que ele seria útil para se proteger em sua viagem para a praia, mas ao chegar ao destino, encontra só chuva. É assim que muitos investidores em títulos atrelados ao IPCA se sentiram em 2024. O ano, que começou com expectativas de juros mais baixos, se transformou em um dos piores para esse tipo de investimento, marcado por uma frustração generalizada no mercado.

Com um retorno acumulado de apenas 1,1%, o índice IMAB, que reflete o desempenho dos títulos públicos atrelados ao IPCA, registra o terceiro pior desempenho das últimas duas décadas. Apenas 2013 e 2021 tiveram resultados mais negativos, com retornos de -10% e -1,3%, respectivamente. O que torna 2024 tão peculiar é o contraste entre as expectativas do início do ano e a realidade que se seguiu.

O mercado começou 2024 acreditando que a Selic, hoje em 11,25%, cairia significativamente, encerrando o ano em 9% ao ano. Mas, à medida que a inflação e o crescimento econômico surpreenderam para cima, o Banco Central foi forçado a mudar o rumo. Agora, a Selic deve encerrar o ano em 12% ao ano, mais alta do que começou. Essa inversão nas expectativas causou perdas consideráveis na marcação a mercado dos títulos, especialmente aqueles com vencimentos mais longos, que são mais sensíveis às mudanças nas taxas de juros.

Esse ano marca a quarta vez em duas décadas que o IMAB apresenta um retorno inferior ao IPCA. Para muitos, isso parece um paradoxo, já que esses títulos são vistos como proteção contra a inflação. No entanto, a proteção ocorre apenas se o investidor mantiver o título até o vencimento. No curto prazo, os preços dos títulos são ajustados com base nas expectativas de juros futuros, e, quando essas expectativas mudam de forma abrupta, como aconteceu em 2024, os preços sofrem.

Apesar disso, é importante lembrar que a característica de proteção contra a inflação permanece intacta para os investidores que carregam os títulos até o final. Essa situação é semelhante ao que ocorreu em 2013 e 2021, quando altas nas taxas de juros também impactaram negativamente os preços dos títulos. Quem teve paciência nesses momentos foi recompensado com os rendimentos contratados.

Para quem já está investido nesses títulos, a melhor estratégia agora é ter sangue frio e esperar. A venda nesse momento apenas cristaliza as perdas causadas pela marcação a mercado, enquanto manter o título até o vencimento garantirá que a taxa contratada seja obtida. Investir em renda fixa, especialmente em períodos de alta volatilidade, requer paciência e uma visão de longo prazo.

Para quem ainda não investiu, o momento também pede paciência. Estamos apenas no início de um novo ciclo de alta da Selic, que deve se estender até meados de 2025. Entrar nesse mercado agora pode significar enfrentar mais quedas nos preços dos títulos. A estratégia mais prudente é esperar o fim do ciclo de alta, quando os títulos podem apresentar taxas ainda mais atrativas, tornando o investimento mais vantajoso.

Esse cenário reforça a importância de entender o comportamento dos títulos públicos em diferentes condições econômicas. Investidores que buscam proteção contra a inflação precisam lembrar que essa proteção é válida no longo prazo, mas não no curto prazo. Aqueles que planejam investir com horizontes mais curtos devem considerar alternativas como títulos atrelados ao CDI, que sofrem menos com a volatilidade causada pelas oscilações nas taxas de juros.

Se há uma lição a ser aprendida com 2024, é que paciência e planejamento continuam sendo fundamentais para navegar pelo mercado de renda fixa. Os desafios podem ser grandes, mas, como vimos no passado, oportunidades também surgem para quem sabe esperar e manter o foco no longo prazo.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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