Não é uma coisa surpreendente, ela [oração ao golpe] compõe esse roteiro golpista, fascista, que tentou de alguma forma tomar o Brasil, e acho que o nacionalismo cristão está um pouco dentro disso, dessa ideia salvacionista do país, em que o diferente, o campo progressista, as liberdades individuais, ou os direitos humanos, a esquerda, seja lá o que for, são os grandes inimigos do país que precisam ser retirados, ou se forem eleitos, precisam ser impedidos de assumir o poder.
Isso não é uma coisa relativamente nova, acho que está muito dentro do corolário que é aquilo que nos Estados Unidos é tão popular como o nacionalismo cristão, que é uma realidade muito próxima do contexto brasileiro também.
Se a gente pensar o 6 de janeiro nos Estados Unidos, você tem muitas histórias semelhantes de quem foi para o Capitólio fazer toda aquela arruaça e aquele ataque, que foi de alguma forma ungido pelas orações, por vigílias, inclusive, de diversas igrejas, grande parte delas protestantes, evangélicas, na verdade, mas também católicas nos Estados Unidos.
No Brasil não é diferente. Muitos dos evangélicos presentes nos atos de 8 de janeiro o fizeram previamente, tendo participado de diversas orações e vigílias, pedidos de orações, que saíram dos seus estados com a bênção de seus pastores e orações, com essa mesma retórica do salvar o Brasil.
Isso é o que é extremamente triste, mas que é um contexto que é esse o Brasil hoje, isso é real. Nós temos uma adesão e um movimento, ainda que ele funcione de maneira sutil, de maneira recuada, mas um movimento identificado com o nacionalismo cristão muito forte que o tempo todo, e sobretudo o governo Bolsonaro, o tempo todo caminhou com todo o projeto fascista e golpista que a gente tem visto. Acho que sem essa unção religiosa, esse movimento inclusive não teria acontecido.
Ronilso Pacheco, colunista
Maierovitch: PGR dá espaço ao diversionismo bolsonarista ao adiar denúncia
Se adiar a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas indiciadas por tentativa de golpe de Estado para 2025, a PGR (Procuradoria-Geral da República) vai dar mais espaço ao diversionismo bolsonarista, opinou o colunista Wálter Maierovitch no UOL News desta quarta-feira (27).
O procurador-geral da República [Paulo Gonet] é quem tem a opinião. Ele é o titular da ação penal. Nenhum outro poderá oferecer a denúncia. Porque é uma ação penal pública, crimes graves, crimes de ação pública incondicionada, e cabe ao procurador-geral da República a titularidade. Ele vai representar o Estado propondo ou não uma denúncia, ou pedindo novas diligências. O que ele está fazendo na prática? O que está fazendo o [procurador-geral] Gonet? Ele já anunciou que vai denunciar só no ano que vem.