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Em tempos de conteúdos rápidos, com cortes bruscos para disputar a atenção nas redes sociais, o influenciador Patrick Torres, 25, vai na contramão. No TikTok, publica vídeos que chegam a até sete minutos para resenhar livros, trazendo não apenas a opinião sobre a leitura, mas também o contexto histórico e os bastidores da vida do autor.

“Nos vídeos longos, você repete, dá ênfase, para que, na tentativa de chegar para o interlocutor a mensagem que você quer passar, você seja bem-sucedido”, diz o criador de conteúdo ao #Hashtag. “Para falar de cultura, de história, de alguma pauta social, tem que ter ser muito descritivo, ter cuidado; um minuto é apertado para fazer isso.”

A convicção de que quer entregar conteúdo mais aprofundado faz com que trave um confronto com os algoritmos que regem as leis do engajamento. Ele tenta buscar um meio-termo. “Se você for só rebelde contra as regras o tempo inteiro e nunca emplacar um vídeo com mais de 100 mil visualizações, o perfil vai ser esquecido e não vai ter relevância.”

Apesar de admirar abordagens mais humorísticas, Patrick diz que não se sente bem em aparecer dessa forma. Por isso, concilia a rotina de conteúdos longos com aqueles mais curtos, mas ainda repletos de informação e reflexões sobre a história do Brasil e contemporaneidade.

Quando tentou de maneira diferente, não gostou do resultado. “Fiz um vídeo que viralizou e espero que não aconteça de novo. Foi um vídeo do Machado de Assis em que eu comento sobre minha perspectiva de como surgiu o debate de que Capitu traiu Bentinho ou não.”

No vídeo, ele se arrumava em frente à câmera, enquanto explica que o questionamento pode ter sido importado da crítica americana. “Odiei, não é o tipo de vídeo que gosto de fazer. Tem comentário para caramba, mas foi tudo tão esvaziado”, diz. “Gosto de quem valoriza de forma orgânica, natural, que não precisa de grandes estímulos para ficar preso num vídeo sobre literatura brasileira.”

Torres se define como um comentarista de literatura e não se considera especialista, por não ter formação acadêmica na área, apesar de estudar muito material teórico para embasar seus roteiros e de ter planos para a formação no futuro.

Graduado em medicina pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o influenciador concilia a produção de conteúdo com plantões de emergência em hospitais públicos. Ele diz que a junção das rotinas é desgastante, mas que, no momento, não pode optar pela paixão pela literatura.

“Difícil se sustentar com arte no Brasil, isso é para uma galera da exceção. É para quem ganhou um Jabuti, vendeu milhões de cópias e investiu na Bolsa”, diz. “Eu não tenho origem rica, não posso me dar o privilégio de fingir que dinheiro não importa.”

Em 2023, publicou seu primeiro livro: “O Cozer das Pedras, o Roer dos Ossos” (ed. Astral Cultural). De Brejo do Piauí (PI), e defende sua escrita como regionalista.

“Para mim, o termo reivindica um lugar de fala, de posicionamento social”, afirma. “O ruim é porque a gente sabe que quem vem de outro lugar olha de jeito estereotipado.”

Para ele, escrever e ler autores nordestinos carrega aspectos de autenticidade que não encontra em outros espaços. “A caatinga é o meu lugar de afeto, de possibilidade de elaboração da minha individualidade com mais completude, porque vou na origem. Para mim, escrever desse lugar é muito mais deslumbrante.”


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