A situação está cada vez mais crítica na saúde suplementar. O fato de os planos estarem cada vez mais caros, e ainda assim várias operadoras enfrentarem dificuldades para fechar as contas, mostra que o cenário é ruim para consumidores e prestadores. Não podemos mais empurrar esse problemão com a barriga.
Para as operadoras, algumas medidas têm sido adotadas —como a possibilidade de cancelamento do plano com duas mensalidades atrasadas— e estudadas —criação de planos ambulatoriais sem internação de emergência.
Isso significa que ter um plano de saúde ficará cada vez mais difícil, exceto para quem tenha condições de pagar caro para ter melhores serviços. Ou, resumindo a situação, cada vez mais consumidores de baixa renda e de classe média dependerão do SUS (Sistema Único de Saúde) ou de cartões de desconto, já utilizados por 60 milhões de pessoas no Brasil.
Há um dilema terrível nesta área. A lógica consumerista diria que as operadoras teriam de ser mais cobradas para atender a todas as necessidades dos clientes, sem aumentar tanto as mensalidades (nos casos em que isso é possível, como nos planos para microempresas) e sem cancelar contratos. Além disso, teriam de oferecer planos individuais e familiares, o que é cada dia mais raro.
A lógica consumerista, contudo, enfrenta a situação do mercado. A saúde suplementar é regulada e as normas são rigorosas (exceto quanto aos cancelamentos de contratos). Quatro fatores, contudo, são apontados como os que mais provocam dificuldades financeiras nos planos: fraudes, Rol de Procedimentos Exemplificativo, incorporação de medicamentos de alto custo e a ampliação das terapias para tratamento de transtornos globais do desenvolvimento, como o TEA (Transtorno do Espectro Autista).
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Desses fatores, as fraudes têm sido combatidas de todas as formas, inclusive com o uso da inteligência artificial. Mas o Rol Exemplificativo —ou seja, que deixa em aberto a inclusão de qualquer tratamento não previsto em contrato—, a ampliação das terapias e a inclusão de medicamentos que chegam a custar milhões de reais, estão longe de uma solução.
Os consumidores não podem ser prejudicados sob hipótese alguma. A partir dessa premissa, todos os segmentos interessados no tema planos de saúde deveriam conversar e propor saídas para esse cenário complicado. Essa discussão tem de ser ampla e geral, sem interdição de temas. As propostas, obviamente, não devem pesar somente do lado do consumidor.
E é bem provável que a União, que arrecada tributos de toda a sociedade, tenha de participar desse arranjo. Sinceramente, não sei a resposta para essas perguntas. Mas não podemos mais fazer de conta que o problema não existe, ou que basta vontade política para resolvê-lo. Assim como os extremos climáticos que ameaçam a vida na Terra, a saúde é um desafio crescente em um mundo em que cai a natalidade, se reduz a mortalidade e aumenta a longevidade.
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