Como se vê, o narcisismo não é uma relação a dois.
Observando mais de perto o mito grego compilado por Ovídio, vemos que Narciso está atraído por sua imagem, mas que, ao mesmo tempo, ele não reconhece sua imagem como sua. Mais ou menos como o bebê que “descobre” sua própria mão e fixando-se a ela como um objeto fascinante, porque é próprio e outro.
Portanto, o problema não é que Narciso está apaixonado por si e isolado um espaço individualista. Mas que ele precisa desesperadamente de outros para receber e confirmar sua própria imagem atraente de fascinação.
O enigma representado por sua própria imagem é fascinante, porque o sujeito investiga e descobre as condições pelas quais ele um dia foi amado ou os traços pelos quais poderá voltará a ser amado.
É por isso que o narcisismo é um sistema necessariamente instável, pois ele precisa de constantes reposicionamentos que jamais vão, de fato, responder à pergunta do narcisista —uma vez que esta pergunta está alienada ao desejo do Outro (alienado quer dizer aqui desconhecido, expulso para o exterior e estranhado).
O exibicionismo e a economia amorosa
Podemos agora distinguir o exibicionismo-voyerismo (prazer do ver-e-ser-visto) deste sistema de quatro termos (eu, minha imagem, o Outro e a imagem que eu “acho” que produzo para este Outro), que regula nossa economia amorosa.