Sempre que sai uma notícia sobre um cessar-fogo no Oriente Médio, o primeiro pensamento que nos ocorre a todos é: quanto tempo durará este cessar-fogo? Creio que é preciso passar a pensar de outro modo. Agora, é mais apropriado perguntar: quanto tempo durará esta notícia sobre o cessar-fogo?
Pouco tempo após a divulgação da notícia sobre o cessar-fogo, nova notícia dizia que o cessar-fogo tinha, afinal, sido adiado. No intervalo entre uma notícia e a outra, Donald Trump, que tomará posse para a semana, reivindicou a responsabilidade pelo cessar-fogo. Trump, que é conhecido por não assumir responsabilidade por coisas que fez, deseja assumir responsabilidade por coisas que não fez. É um modo de proceder que nos é familiar, porque o reconhecemos facilmente nas crianças.
Talvez esta constatação possa ser importante quando se tenta delinear uma estratégia para lidar com o próximo presidente dos Estados Unidos. Tratá-lo como uma criança pode ser um método eficaz.
Neste caso concreto, a posição de Trump tem um problema evidente: se o mérito do cessar-fogo é dele, o fato de afinal o cessar-fogo ter sido adiado também terá forçosamente de lhe ser imputado.
Não é provável que ele tenha mérito pelos dez minutos em que o cessar-fogo pareceu verdadeiro e esteja isento de responsabilidades quando se percebe que o anúncio das tréguas foi precipitado. Seja como for, o melhor é fazer-lhe a vontade.
Quando eu era pequeno, os meus pais deram-me um volante de plástico que tinha uma ventosa, para ficar preso às costas do banco do condutor. Eu ia no banco de trás e, quando o carro virava à esquerda, eu fazia o mesmo no volante; quando virava à direita, eu também virava à direita. E assim parecia mesmo que era eu quem estava a dirigir.
Proponho que as instituições americanas façam o mesmo com Trump. Instalem instrumentos de brincar no salão oval. Quando ele telefonar para o governo da Dinamarca a propor a compra da Groenlândia, atende uma funcionária que diz que os dinamarqueses têm todo o gosto em fazer o negócio, e por apenas US$ 5. Na secretária, coloquem um botão vermelho ligado a nada, para ele se entreter a lançar mísseis imaginários contra diversos países.
Na prática, não acontecerá nada, mas pode ser que resulte. Ele nunca precisou da realidade para alegar que ela lhe dá razão. Pelo contrário, só atrapalha.
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