Nesta edição do Fórum Econômico Mundial, que acontece até sexta (24) em Davos, o cenário de incertezas segue agravado pelos efeitos do aquecimento global, que vêm consumindo o planeta no mesmo ritmo acelerado em que forças geopolíticas e populistas dizimam pessoas e democracias. Se não queremos que o nosso papel, como sociedade civil, seja o de segurar a plaquinha de “o fim está próximo”, aqui é um lugar chave para trazer essas urgentes preocupações à mesa de quem tem os recursos e a caneta na mão.
O tema deste ano é “Colaboração para uma era de inteligência”, abrangendo o universo de possibilidades que os avanços tecnológicos permitem para melhorar as condições de vida no mundo. Mas estamos usando toda essa inteligência no que realmente importa?
Um dos eixos temáticos propostos nessa discussão, por óbvio, é a proteção do planeta. Batemos o triste recorde, em 2024, de o ano mais quente da história. É crucial preparar as cidades com uma infraestrutura capaz de absorver os choques climáticos e treinar suas populações. Ao mesmo tempo, a transição para economias de baixo carbono precisa ganhar força na priorização de soluções baseadas na natureza, energias renováveis e bioeconomia.
Não temos tempo para retrocessos. Se já estamos atrasados para alcançar as metas das convenções globais de clima e biodiversidade, a posse de Donald Trump na presidência dos EUA escala os riscos com a anunciada retirada do país desses acordos. O recente abandono da Net-Zero Banking Alliance por grandes bancos americanos é mais um exemplo dos impactos desastrosos do capitalismo curtoprazista.
Temos de construir imediatamente novos modelos econômicos, compatíveis com a proteção dos recursos naturais e das populações tradicionais. Outra questão em Davos é reimaginar o crescimento econômico, diante da abundância de evidências de que não pode acontecer às custas da exploração predatória do planeta e das pessoas na base da cadeia de valor.
Nesse sentido, ressalto a importância de valorizar e incluir o capital natural nos balanços das empresas, e de que a transição verde para um mundo mais inteligente e sustentável seja justa, incluindo as pessoas, sem deixar ninguém para trás.
Esses esforços exigem acordos e parcerias globais, entre os países e dentro dos países, entre agentes públicos e privados. Nada vamos conseguir sem a reconstrução da confiança da cooperação internacional, outro dos grandes temas em Davos.
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Apesar da desordem geopolítica que pôs o multilateralismo em xeque, este é momento em que mais precisamos do fortalecimento do diálogo e da ação coletiva pelos bens públicos globais. O relatório Global Cooperation Barometer, recém-lançado pelo Fórum Econômico Mundial, constata que a cooperação internacional estacou —no entanto, há espaço para avançar nas áreas de clima e natureza, inovação e tecnologia, e saúde e bem-estar.
O Brasil se mantém relevante no debate global contra os extremismos e o negacionismo. Temos ouvido aqui que, na visão da maior parte dos países, é preciso ajudar o país para o sucesso da COP30, em Belém, na salvaguarda da humanidade e do planeta. No grave cenário atual, aumenta a responsabilidade brasileira, mas também a chance de catalisar a cooperação global e multissetorial na contribuição para uma era de inteligência e esperança.
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