Hoje, porém, a prioridade é confirmar, com a ajuda modelos de laboratório capazes de simular a falta de carnitina, se isso seria realmente uma das causas do Alzheimer. “Uma delas”, frisa o pesquisador. “Essa não é uma doença de causa única.” Mas, como ele também lembra, o fato de a carnitina ir caindo na medida em que a doença avança dá a entender que nada é acaso. A baixa do aminoácido deve estar tremendamente envolvida no Alzheimer — em mulheres, bem entendido.
Impacto no diagnóstico
Os cientistas também demonstraram que, quando a gente incorpora a dosagem da carnitina livre no sangue a outros exames para checar se é Alzheimer ou não, a precisão do diagnóstico aumenta bastante.
“Isso é animador”, diz o professor. “Claro, exames de imagem às vezes exibem áreas do cérebro que literalmente ficaram encolhidas pela neurodegeneração, dando uma pista. Mas atualmente, mesmo analisando a quantidade de proteínas, como a beta-amiloide e a tau, que são marcadores de Alzheimer, ainda existem aqueles casos que ficam no meio do caminho, deixando todo mundo na dúvida”, ele conta.
Além disso, essas proteínas são dosadas em coletas do liquor, o fluido que banha o sistema nervoso. Sem dúvida, um exame de sangue para checar a carnitina livre é menos invasivo e mais acessível, até pensando em uma primeira etapa de rastreamento do Alzheimer amanhã ou depois. “A realidade é que, mesmo quando a pessoa tem acesso a todos os exames, nunca há 100% de certeza de que é mesmo essa doença nas fases iniciais. Daí que acrescentar uma maneira para a gente chegar a uma resposta é algo muito positivo”, opina o pesquisador brasileiro.
Mais uma forma de tratamento?
O professor volta a dizer que não adiantará se a mulher consumir carnitina extra para evitar o avanço do Alzheimer. Pouquíssimo irá parar no sangue e, menos ainda, no sistema nervoso central. “Mas é possível imaginar o desenvolvimento de outras moléculas que ajam no metabolismo de gorduras no cérebro”, estima. Agora, esse metabolismo deverá ser esmiuçado na busca de novos alvos terapêuticos, ou seja, de pontos em que um remédio poderá atuar para melhorar a situação, compensando de alguma maneira a queda do aminoácido.