José Pugas, sócio e diretor de sustentabilidade da Régia Capital, concorda que este seja um contexto específico norte-americano, lembrando que é importante, no momento, diferenciar o que é som do que é ruído: países como China, Japão e Cingapura apresentaram planos de descarbonização detalhados e a Europa segue firme em seus compromissos robustos. “Temos que olhar numa perspectiva global. A pauta climática avança como a maré – tem idas e vindas. Nos Estados Unidos, está havendo sim um retrocesso. Mas, no mundo, há um forte avanço e estamos atravessando um momento em que as regulações estão se acomodando”, diz.
Pugas pontua que a instabilidade trazida pelo governo Trump à agenda climática norte-americana pode acabar beneficiando o Brasil. “Investidores não vão querer colocar dinheiro em um país que o próprio governo ameaça barrar subsídios em energia limpa, por exemplo. Aí que o Brasil entra no jogo como a melhor opção para estes investimentos, temos mais segurança jurídica”. Ele completa: “Só temos a ganhar com esta crise nos Estados Unidos, não devemos nos preocupar. O Brasil é muito mais relevante nesta pauta”.
Linda Murasawa reforça a posição privilegiada brasileira no momento. “Temos políticas nacionais, programas governamentais de baixo carbono, metas setoriais. As regulamentações existentes no país podem impulsionar este movimento e atrair investidores”, afirma a executiva.
Jaques Paes, especialista em projetos e professor de MBAs na FGV (Fundação Getúlio Vargas), aponta ainda a fragilidade de coalizões como a NZAM, que não teriam um papel prático definido. “Este tipo de coalizão é um jogo de poder disfarçado que não veio para resolver problemas ambientais. Como pode existir uma aliança em que cada participante tem autonomia para implementar suas próprias metas?”, questiona.
Segundo ele, as coalizões são importantes para mostrar ao mundo que há engajamento em torno de um tema. “Entretanto, neste caso, o que parece, é que, dependendo de quem está no governo, a narrativa faz ou não sentido. Há uma indefinição de papéis e responsabilidades em uma estrutura que não trouxe nenhum resultado até agora. Por isso que, na prática, nada vai mudar com este recuo”, finaliza.
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