A esta altura do campeonato, o bracinho erguido para o mundo todo ver (duas vezes no mesmo evento, diga-se de passagem) provavelmente é a coisa menos grave no extenso currículo do nepobaby do apartheid. Babadores de ovo negarão até a morte, é claro. Mas Elon Musk não precisa gritar “Sieg Heil!” para que uma coisa fique abundantemente clara: as ideias que ele tem esposado são o upgrade do nazismo para o século 21.
E ele não está sozinho –muito pelo contrário.
Já tive o desprazer de escrever sobre isso nesta Folha, mas, como dizia o velho Machado, certas coisas se devem incutir à força de repetição. Na ocasião, chamei esse conjunto impreciso de crenças, vagamente compartilhado por Musk e outros bilionários, como Peter Thiel, Jeff Bezos e Bryan Johnson, de “eugenia nerdola”.
A epiderme do movimento passa uma impressão novidadeira. Esse pessoal fala muito em “longotermismo” –maximizar as chances de sobrevivência da espécie humana indefinidamente, inclusive em termos cósmicos, o que explica a obsessão deles com a exploração espacial tripulada.
Também estão gastando os tubos com pesquisas sobre extensão individual da vida biológica. Alguns, como Johnson, viraram até cobaias de si mesmos, adotando práticas bizarras de “restrição calórica” (no meu tempo isso se chamava “passar fome sem necessidade”), engolindo um coquetel de suplementos alimentares esquisitos e até recebendo transfusões de sangue de gente mais nova. Chamar os sujeitos de vampiros ou sanguessugas nem chega a ser piada: virou descrição factual mesmo. Tal como no caso de Drácula, a meta é a imortalidade.
Vale ressaltar que tudo isso, por ora, é pseudociência da grossa, por mais que eles se imaginem como paladinos das fronteiras do conhecimento. Ninguém sério faz a mais vaga ideia de como conferir vida eterna a um corpo humano, e colonizar outros planetas é só um pouco menos improvável.
Mas a verdadeira pseudociência de estimação de Musk e seus amiguinhos e rivais tem a ver com a história e a genômica da nossa espécie.
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Se você acha estranho que um bilionário tenha 12 filhos sem ser religioso (principal motivação para a existência de famílias numerosas hoje), é porque talvez não tenha ouvido falar da razão por trás de toda essa prole: Musk e companhia acham que brancos como ele precisam ter mais filhos “do que a concorrência”. Principalmente se forem brancos “de alta performance” (como ele, é claro).
Tudo isso porque esse pessoal, junto com 70% do Partido Republicano, compraram a patacoada da “Grande Substituição”, a ideia de que estaria em curso uma conspiração para substituir biologicamente, por meio de imigração e miscigenação, as populações brancas do mundo.
E isso, é claro, seria acompanhado de um declínio civilizacional inevitável porque, afinal de contas, gente não branca tem QI inferior por razões genéticas. Eles adoram comparar esse cenário à queda do Império Romano.
O mais fascinante é que não há absolutamente nada de original nessa maluquice toda. Eles estão só regurgitando o lixo racista do século 19 que produziu o nazismo. E as “estrelas” originais dessas teorias eram os judeus, que não eram considerados brancos.
Daí porque faz todo o sentido que esse pessoal deteste a checagem de fatos. No mundo real, os pesadelos e sonhos deles não fazem o menor sentido.
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