Pelo pífio desempenho da Bolsa em 2024 (o Ibovespa registrou queda de 10,36%), você deve imaginar que os fundos de ações tiveram, em esmagadora maioria, um resultado fraco. Os investidores, insatisfeitos com os resultados ou necessitados de grana, resgataram seu dinheiro e, no fim do ano, esses fundos ficaram com saldo negativo de R$ 10 bilhões.
Somando os saques à desvalorização dos ativos, o “mundo” dos fundos de ações terminou 2024 com patrimônio de R$ 584 bilhões, praticamente 7% a menos do que tinham no começo do ano.
Até aí, pouca surpresa. O que chama a atenção é que agora os brasileiros têm menos dinheiro investido nos famosos fundos de ações do que nos outrora desconhecidos FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios). São fundos que negociam créditos —recebíveis de empresas, precatórios ou até mesmo processos judiciais em andamentos.
Esses veículos não são negociados em Bolsa, mas diretamente entre gestoras e corretoras, que os distribuem para seus clientes —o chamado “mercado de balcão”. Seus gestores captaram impressionantes R$ 113 bilhões em 2024 e atingiram o patrimônio total de R$ 589 bilhões. Dinheiro de investidores, procurando boas opções para fazer suas economias render.
Além do fator “popularidade” —posso apostar que qualquer leitor já ouviu falar em fundo de ações, enquanto muitos desconhecem os FIDCs (diz-se “fidiques”, aliás)—, também vale salientar que os fundos de ações são regulamentados desde 1965, enquanto os de direito creditórios nasceram em 2001.
Por serem do “mercado de balcão”, esses fundos são assombrados pela falta de liquidez. No caso de dor de barriga, é provável que pouca gente compre suas cotas antes do vencimento. Isso não é um impeditivo para investir, mas gera uma necessidade maior planejamento.
Folha Mercado
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A possibilidade de os juros atingirem os 15% ao ano assombram os planos de investir nas ações (você sabe que as empresas precisam de dinheiro mais barato para crescer). E, como quem precisa de caixa tem sido obrigado a topar altas taxas nos empréstimos, empacotar recebíveis e vender no mercado tem sido a opção de diversas varejistas e a salvação de muitas gestoras.
Um dos pontos cruciais na hora de escolher um FIDC é conhecer seus gestores e sua tese. Como é feita a análise de risco de cada produto empacotado no fundo? A varejista que vende seu crédito pode levar calote em algum momento? Os precatórios que compõem seu patrimônio são federais, estaduais ou municipais?
Os ativos judiciais vêm despontando como um novo campo de atuação das gestoras. O financiamento de litígios, que já movimenta US$ 17,5 bilhões globalmente, também ganha força no Brasil. Os fundos oferecem capital para cobrir custos processuais em troca de participação no resultado do processo.
Nesse ponto, além de precisar entender o modelo de negócios desenhado, o investidor precisa ter clareza sobre como é feita a análise de probabilidade de vitória ou derrota nas ações que entram no portfólio.
O dinheiro é como água e sempre acha um caminho. Se a Bolsa está fraca, novos produtos aparecem. Se um tipo de fundo é atingido por nova tributação, outra ferramenta logo ganha força. A explosão de FIDCs no último ano é a ilustração máxima disso.
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