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Faz mais de vinte anos que escrevo sobre a paleontologia feita no Brasil, e uma coisa que me enche de empolgação é tentar mostrar aos leitores que a área está repleta de coisas tão interessantes quanto os famigerados dinossauros. Na semana que passou, por exemplo, tive a oportunidade de falar das anêmonas (invertebrados marinhos parentes das águas-vivas, mas que se fixam no leito) de mais de 400 milhões de anos descobertas em diversos pontos do território do Ceará.

Só tem um problema: será que é mesmo possível demonstrar que determinadas estruturas fósseis correspondem mesmo a antigas anêmonas?

A questão é que se trata de um bicho de corpo mole e estruturalmente simples, basicamente um tubo com boca e tentáculos. Assim, algumas das anêmonas fósseis identificadas até hoje foram contestadas por outros pesquisadores, para quem fatores abióticos (não vivos) do ambiente marinho poderiam produzir aglomerados de rocha com formas enganosas.

Perguntei sobre esse desafio a uma das coautoras do novo estudo sobre as anêmonas cearenses, a pesquisadora Sonia Agostinho, da Universidade Federal de Pernambuco. Confiram o que ela me disse.

“A distinção entre estruturas geológicas e os moldes preservados de anêmonas do mar é um desafio complexo. Devido à simplicidade morfológica desses organismos e à fragilidade de suas partes moles, como tentáculos, que raramente se fossilizam, pode ocorrer confusão na interpretação de tais estruturas.

Esse debate é recorrente na comunidade científica, com diversos estudos buscando estabelecer critérios para diferenciar estruturas biogênicas de marcas sedimentares abiogênicas. Além da presença de características anatômicas preservadas, a análise do contexto ambiental antigo pode fornecer evidências cruciais para a identificação de estruturas biogênicas, como as produzidas por anêmonas.

Uma das evidências que reforça a hipótese desses moldes serem reconhecidos como anêmonas do mar é o fato de que muitos espécimes estão preservados com a região aboral [a parte abaixo da boca] expandida, podendo apresentar variações na fisa, uma estrutura útil no processo de escavação do substrato inconsolidado [o leito marinho onde a anêmona se enterra]. Além disso, a tomografia computadorizada revelou a presença de uma cavidade interna e estruturas anelares, que são comparáveis aos músculos transversais desses animais.”

Ao que parece, portanto, vai ser difícil questionar a validade dos fósseis brasileiros.


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