MENTIRAS E OMISSÕES
Observem: tudo isso estaria presente ainda que tal estratégia discursiva não ignorasse os fatos. Ocorre que ela embute mentiras e omissões flagrantes.
Em primeiro lugar, os brasileiros foram maltratados no voo. Testemunhos vários apontam que pessoas foram agredidas e submetidas a humilhações que vão muito além das algemas. Em voos anteriores, tão logo o aeronave posava em solo brasileiro, as algemas eram retiradas.
Desta feita, além das agressões físicas no curso do voo — e não há relatos de que tenham acontecido antes —, houve o problema com o avião. Já no Brasil, as pessoas permaneceram algemadas, contrariando as leis brasileiras. E, aí sim, foi preciso que o governo daqui entrasse em ação, como fez o ministro Ricardo Lewandowski, para lembrar que temos uma legislação a respeito.
As agressões praticadas e o clima de terror que se instalou levaram os repatriados a uma revolta, o que acabou apressando a correta intervenção de Brasília.
OU, ENTÃO, FAZER O QUÊ?
Diante do que se viu e se sabe, o que deveria ter feito o governo brasileiro? Aberto mão de defender seus nacionais em solo pátrio, alegando costume? “Ah, sempre foi assim, e a revolta dos que foram submetidos a sevícias é descabida; afinal, não entraram ilegalmente nos EUA? Não fizeram essa escolha? Pois que arquem com as consequências.” Queriam isso?
Ainda que a reação de repúdio tenha partido majoritariamente do chamado campo progressista, isso muda o fato, falseia a dor e a humilhação dos agredidos, elimina o flagrante desrespeito às leis brasileiras quanto o avião já estava em solo nacional? Esse direitismo ginasiano, da quinta série, que reivindica a condição de uma categoria superior de pensamento é patético, talhado para assanhar lacradores reacionários das redes.