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Os vídeos começam do mesmo jeito. Arthur Paek se aproxima lentamente da câmera, apoia o braço musculoso no balcão da cozinha, dá um sorriso de lado e pergunta, com voz suave: “Vamos fazer uma salada de macarrão?” Pode ser um bibimpab, um bobó de camarão, qualquer receita.

Com esse bordão de “Vamos fazer”, o influenciador de 23 anos virou fenômeno na internet, publicando vídeos em que ensina receitas coreanas e de outras culinárias, enquanto dá uma sensualizada. Hoje, acumula quase 6 milhões de seguidores no Instagram. Já fez parcerias com gente como Ivete Sangalo, Rebeca Andrade e Alex Atala.

Suas gravações sincronizam as batidas de músicas de k-pop, funk ou sertanejo, com os barulhos e movimentos da cozinha, como uma cebola sendo fatiada, uma faca batendo na tábua. Os cortes são rápidos e as imagens dão closes na comida, bem ao estilo “food porn”. Sim, é ele mesmo quem faz a receita.

Paek diz que sempre gostou de cozinhar. Aprendeu a botar a mão na massa com a avó e a mãe quando ainda era pequeno. Suas lembranças são de longas refeições com a família, repletas de pratos coreanos. “Eu nasci aqui, mas muito da cultura gastronômica que aprendi foi relacionada à Coreia do Sul, onde meus pais nasceram. É uma comida que junta amigos e família, todos estão sempre ao redor da mesa.”

No início da vida adulta, teve de se virar sozinho. Durante os dias enfurnados dentro de casa na pandemia, teve uma ideia: gravar o que preparava. Seu primeiro vídeo foi publicado nas redes sociais em setembro de 2022. Nele, já tinha a pegada de combinar ritmos e cortes.

O influenciador-cozinheiro começou filmando sozinho na cozinha de casa, na zona oeste de São Paulo. “Gravava com o celular apoiado num porta-guardanapo, pegava a lâmpada do meu quarto.” Com o tempo, comprou equipamentos profissionais, como câmeras e luzes. Aprendeu a editar na prática, seguindo tutoriais. “Só percebi que gostava dessa parte visual, da captação e da edição, porque fui lá tentar fazer esses vídeos”, diz.

O famoso bordão só veio meses depois. Ele explica: “Quis criar uma forma que poderia me identificar. Mas essa coisa de ir até a câmera e fazer uma pausa, criar esse suspense, foi algo que decidi fazer numa gravação.”

Nos primeiros vídeos, ele se exibia mais para a câmera. Piscava, dançava e deixava os botões da camisa abertos. Paek continua seduzindo os espectadores, mas diz que não quer ser forçado. Os sorrisinhos entre uma panela e outra, por exemplo, saem de forma natural.

Para ter uma ideia, montar um vídeo de um minuto consumia até 12 horas. “Começava depois do almoço e terminava na madrugada ou na manhã do dia seguinte”, diz. Com a demanda por mais vídeos, teve dificuldade em conciliar a faculdade de administração que então cursava.

Trancou a matrícula com o aval dos pais, com quem mora. “São coisas que têm uma direção muito diferente. A proposta da faculdade era ir trabalhar num escritório, num banco ou numa empresa que não tem nenhuma sinergia com essa produção de conteúdo.”

O pai achava que os vídeos eram apenas um passatempo. A produção, no entanto, só cresceu. Hoje, Paek tem uma equipe própria, que o ajuda a captar as imagens e a preparar as receitas. Há algumas semanas, deu o braço a torcer e contratou um editor. Mas continua presente em todo o processo, agora resolvido em até cinco horas.

Nos bastidores, Paek é sério e perfeccionista. Corta aqui, pica ali. Presta atenção em como a água do alface espirra. Gira um prato quase 20 vezes até ficar do jeito que goste. Se a maionese caiu na salada de um jeito que não curtiu, faz mais molho e repete o mesmo take quantas vezes forem necessárias. Gasta horas para alinhar segundos de um ingrediente com a música.

“Sempre editei meus vídeos, mas hoje em dia, com o volume de coisas, seria muito difícil fazer o conteúdo sem essa ajuda”, explica. Calcula que já filmou pelo menos 150 receitas. A rotina também ficou apertada porque ele embarcou na vida de influenciador, com uma agenda cheia de publis e eventos.

Começaram a surgir convites para gravar com chefs e famosos. A cozinha de casa ficou pequena. Passaram por lá Rodrigo Hilbert, Helena Rizzo, Angélica, Thiaguinho, Gloria Groove, Larissa Manoela, Pedro Sampaio e Jade Picon. Os vizinhos até acharam estranho ver gente famosa batendo à porta dele de madrugada.

Depois de tanta demanda, os pais dele decidiram construir um estúdio para o filho. Afinal, o jovem de 23 anos furou a bolha de fãs da cultura coreana e conquistou o público geral. É difícil não conhecer alguém que tenha visto um vídeo dele.

Agora, ele está expandindo o cardápio. Fez vídeos de moda e entrevistas com o elenco de “Round 6”, fenômeno da Netflix, que o levou à terra natal de seus pais.

Ele também aproveita a popularidade da cultura coreana no Brasil, que começou com o k-pop e depois os k-dramas. “Agora, estamos no momento da gastronomia”, diz Paek. O foco dos vídeos de fato é a comida, mas é inegável que a aparência do influenciador acaba atraindo o público. “Acho que a minha identidade visual ajuda, sendo alguém descendente coreano, que as pessoas têm muito interesse por ver.”

Paek diz não ligar para os comentários nas redes sociais. “Nunca fiz meus conteúdos porque queria me retratar de uma forma específica fisicamente”, ele diz. “Faço porque gosto.”