Algumas observações específicas me fizeram pensar na diferença de tratamento dado a mães e pais no cuidado com os filhos.
A mãe faz tudo e não faz mais do que a obrigação. Põe para dormir, amamenta, prepara comida, dá a comida, dá banho, leva para a escola, busca na escola, marca os médicos, compra os remédios, pensa nas roupas que não servem mais, na lista do mercado, no lanche, em absolutamente tudo. E daí? É mãe. Não quis ter filho? Está tudo no pacote. Agora te vira.
O pai? Esse merece aplausos. Ficou sozinho com a criança? Lembrou-se do antibiótico? Comprou o presente do aniversário da amiguinha? Saiu da cama no meio da madrugada para acudir o bebê? Cozinhou um feijão? Limpou cocô? Gente, uma bênção. Diferenciado. Que homem.
Neymar é a mesma coisa. Uma seleção de comentários que ouvi ontem, em tom de admiração: Neymar chegou quinze minutos antes do início do treino (de helicóptero), Neymar comeu o mesmo que os companheiros no CT, Neymar abraçou as tias da cozinha, Neymar treinou igual aos reservas, Neymar resenhou com os colegas, Neymar andou de van, Neymar não se atrasa.
Que homem. O jogador mais bem pago da história do clube, quem diria, cumprindo com as suas obrigações. Entendo o frisson em torno do ídolo, ainda que critique a idolatria à pessoa Neymar. Entendo a curiosidade e até a comoção. Mas louvá-lo por fazer tudo que os outros fazem sem alvoroço me parece perigoso e contraproducente.
Pelo dinheiro que custa e a expectativa que gera, ele precisa ser cobrado pelo máximo — e não louvado pelo mínimo. Não quis ser jogador de futebol? Está tudo no pacote.