Ingressar no serviço público é o sonho de muitos brasileiros. A estabilidade, salários competitivos e um maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional são grandes atrativos em um país com tantas oscilações econômicas. No entanto, o funil dos concursos é estreito e conquistar uma vaga no serviço público não é para todo mundo que quer.
No dia 4, foram divulgados os resultados da primeira edição do Concurso Nacional Unificado (CNU). O perfil dos aprovados evidenciou avanços na promoção da diversidade no serviço público. Candidatos de todas as unidades da federação foram aprovados, refletindo a potência do modelo unificado para oferecer oportunidades para candidatos de todas as regiões, não só dos grandes centros urbanos.
Os resultados das cotas também demonstram avanços. Um terço dos aprovados são negros, indígenas ou pessoas com deficiência, superando os níveis mínimos das reservas de vagas. As pessoas com deficiência, que representavam 2% dos inscritos, alcançaram quase 7% dos aprovados, aproximando-se da distribuição populacional de aproximadamente 10%, conforme o Censo de 2022.
Em termos raciais, a proporção de aprovados também superou a de inscritos entre os grupos beneficiados por cotas. No entanto, apenas um quarto dos aprovados se autodeclararam negros, ainda distante da distribuição populacional, em que metade da população se identifica como negra. Apesar disso, o resultado é um avanço significativo na promoção da diversidade em um setor marcado por desigualdades.
O principal desafio de desigualdade revelado pelo CNU refere-se ao gênero. Embora as mulheres tenham sido 56% dos inscritos, elas correspondem a apenas 37% dos aprovados. A disparidade é ainda mais acentuada em certas áreas: em tecnologia, dados e informação, só 8% das vagas ficaram com mulheres. Em contrapartida, a área de educação, saúde, desenvolvimento social e direitos humanos é a única em que as mulheres são maioria (60%). Mais uma vez, esses números refletem estereótipos de gênero profundamente enraizados.
Em uma sociedade em que meninas ouvem desde cedo que o trabalho de cuidados é mais bem performado por elas e são menos estimuladas a buscar áreas de exatas e ciências, é evidente que o conceito de meritocracia não se aplica a todos nem a todas. A baixa participação feminina em carreiras mais bem remuneradas vem de fatores estruturais, incluindo a distribuição desigual do trabalho não remunerado, que recai desproporcionalmente sobre a mulher. Vai muito além de aptidão e preferências pessoais. Esse desequilíbrio reduz suas chances de aprovação nos concursos mais concorridos e bem remunerados.
Enfrentar a falta de equidade no serviço público é uma questão moral, mas também uma estratégia para melhorar a gestão pública. A diversidade amplia perspectivas na alocação de recursos e fortalece a tomada de decisões. Há evidências de que mulheres na política tendem a estar menos envolvidas em corrupção e a promover políticas mais inclusivas. Por isso, continuar discutindo diversidade e equidade no serviço público é essencial para aperfeiçoar as políticas públicas e refletir o verdadeiro perfil do futuro servidor —ou servidora.
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