Que Donald Trump ia querer chacoalhar o xadrez da geopolítica regional, nós já sabíamos. Que o fizesse de modo tão ruidoso e veloz foi uma surpresa que deixou muitos governos preocupados e em estado de alerta.
O anúncio das tarifas comerciais de 25% a produtos canadenses e mexicanos, com a justificativa de que esses países não colaboravam para impedir a entrada de migrantes em situação irregular e de drogas como o fentanil em território americano, foi o primeiro susto.
Para o Canadá, o impacto seria importante, mas não incontornável. Para o México, porém, seria gravíssimo, com consequências se expandindo ao sul das Américas, uma vez que os cartéis mexicanos hoje atuam em vários países abaixo da linha do Equador.
Mas eis que a recém-empossada presidente do México, Claudia Sheinbaum, mostrou-se como uma chefe de Estado digna, firme, dissolvendo ressalvas e dúvidas que existiam a respeito dela antes das eleições: falta de carisma e de pulso firme para enfrentar a pressão exercida pelo governo dos EUA. Chegaram a dizer que ela poderia ser uma espécie de marionete de seu padrinho político.
Porém, não tem sido assim.
Logo depois do anúncio da imposição das tarifas por parte do republicano, Sheinbaum afirmou que agiria com “calma” e “cabeça fria”, por meio do diálogo. E funcionou. Por ora, a medida foi suspensa.
Sheinbaum foi eleita com 59,76% dos votos e assumiu comprometida com seu estilo de discurso formal e direto. Nestas últimas semanas de crise regional, o México e a região puderam entender melhor como ela irá buscar governar o país.
Mais do que isso, os mexicanos embarcaram numa onda de orgulho de sua presidente, que exibe um estilo sóbrio e uma apresentação autêntica, marcada por seu modo pausado de falar, por suas vestimentas com toques da cultura originária do país e seu sempre presente rabo-de-cavalo.
Inclusive, viralizou nas redes um episódio curto, porém significativo, em que Sheinbaum aparece desvencilhando-se de um governador que tentava segurar seu braço, num gesto machista, e falar-lhe ao pé do ouvido.
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Hoje, Sheinbaum exibe marcas singulares de aprovação, com uma cifra ao redor dos 80% de aprovação.
Como isso foi possível? Seguem algumas respostas.
Antes de mais nada, apostar na diplomacia antes de arroubos verborrágicos como os de Javier Milei (Argentina) ou Gustavo Petro (Colômbia).
Sheinbaum concordou com algumas concessões, como reforçar com 10 mil soldados a fronteira entre os dois países. Ressaltou que os EUA também tinham tarefas —por exemplo, a de conter a venda ilegal de armas, uma vez que 75% do armamento utilizado pelos carteis mexicanos vem do norte.
Também, como mulher vinda da área das ciências, propôs a Trump uma avaliação das políticas de saúde pública dos EUA, de onde vem a principal demanda por drogas ilícitas. No mais, anunciou medidas para acolher os imigrantes devolvidos por Trump por meio de planos de assistência e promoção do emprego.
O governo dos EUA afirma ter havido uma queda de 94% na entrada de migrantes em situação irregular a seu território. “Os números que o presidente Trump está mostrando são o resultado de uma estratégia montada pela minha equipe”, afirmou a líder mexicana.
Diferenciando-se de seu antecessor e padrinho, Sheinbaum tem mostrado pragmatismo e resultados, e conteve uma crise sem precedentes. Resta saber se continuará tendo esse tipo de reação firme ante os desafios vindouros. Por ora, ponto para ela.
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