Em julho de 2024, após a temperatura média global diária ter atingido um novo recorde, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que bilhões de pessoas no mundo estavam enfrentando uma epidemia de calor extremo.
Notícias sobre calor extremo são constantes.
Em 2024, o ano mais quente já registrado, 111 cidades do Brasil tiveram temperaturas acima da média por cerca de 150 dias, afetando mais de 6 milhões de pessoas. O município de Melgaço, no Pará, teve 228 dias com calor extremo.
Recentemente, o Rio Grande do Sul registrou temperaturas extremamente altas (acima de 40°C). O início das aulas teve que ser adiado já que apenas 1 em cada 4 escolas estaduais tem aparelhos de ar-condicionado.
No Brasil, apenas 70% das salas de aula nas escolas públicas eram climatizadas. Importante ressaltar que vários estudos mostram uma redução na atenção e no desempenho escolar devido ao calor extremo.
Os efeitos na saúde são marcantes. Entre 2000 e 2019, cerca de 489 mil mortes relacionadas ao calor ocorreram a cada ano no mundo. Considerando apenas as pessoas com mais de 65 anos de idade, a mortalidade relacionada ao calor aumentou aproximadamente 85% entre os períodos de 2000-2004 e 2018-2022. Na América do Sul, o número de mortes relacionadas ao calor aumentou 160% entre os períodos de 2000-2004 e 2017-2021.
No Brasil, entre 2000 e 2018, estima-se que quase 50 mil mortes foram atribuídas às ondas de calor. Durante o mesmo período, foi observado maior risco de morte na Amazônia durante períodos de onda de calor, especialmente as mais intensas.
Esses efeitos, entretanto, afetam desproporcionalmente algumas áreas e grupos populacionais. Ilhas de calor urbano, com pouca vegetação e dominadas por asfalto retêm o calor. Em áreas de habitação precária, com populações vivendo em condições de vulnerabilidade, crianças têm maior probabilidade de frequentar escolas sem ar-condicionado e famílias estão mais expostas aos efeitos do calor.
Além disso, idosos, mulheres, mulheres grávidas, lactentes, crianças pequenas, pessoas com problemas de saúde pré-existentes (incluindo saúde mental e pessoas com deficiência), pessoas que trabalham ao ar livre, aqueles em funções fisicamente exigentes ou que trabalham em ambientes internos sem ventilação também sofrem de forma desproporcional.
O impacto social e econômico é enorme. Os efeitos do calor extremo afetam o capital humano e, portanto, o potencial de desenvolvimento econômico, agravando as desigualdades existentes.
Em 2024, a cidade do Rio de Janeiro foi pioneira ao lançar o Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo, que estabelece cinco níveis de calor e ações especificas a serem tomadas em cada nível.
Um estudo recente estima que, no nível mais severo (temperaturas acima de 44°C por pelo menos duas horas por dia), há um aumento de 50% nas mortes por diabetes, insuficiência renal e hipertensão na cidade do Rio de Janeiro.
Mitigar os efeitos do calor extremo demandam ações globais e locais.
Globalmente, o mundo anda para trás com as recentes decisões do governo dos EUA.
Localmente, as ações incluem a melhoria das condições das cidades e escolas. Acima de tudo, ações concretas implicam na redução das desigualdades.
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