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O Brasil caiu para a 107ª posição no Índice de Percepção da Corrupção (CPI) de 2024, registrando sua pior colocação desde 2012. A pontuação do país foi de 34 pontos em 100, abaixo da média global de 43 pontos, e três posições abaixo do ranking de 2023. O resultado reflete uma piora na percepção da corrupção por especialistas e empresários, mas também levanta uma questão essencial: o que exatamente esse índice mede?

O CPI, publicado pela Transparência Internacional, não mede a corrupção em si, mas sim como ela é percebida por analistas de mercado e líderes empresariais. Embora a percepção não seja um reflexo direto do nível de corrupção, ela tem efeitos concretos na economia, na confiança institucional e na governança. Países bem posicionados no ranking tendem a atrair mais investimentos e ter instituições mais resilientes, enquanto aqueles que registram quedas enfrentam maior desconfiança e risco político.

No caso do Brasil, a piora no ranking está associada a fatores que enfraqueceram os mecanismos de controle e transparência nos últimos anos. Decisões do Supremo Tribunal Federal reverteram condenações da Lava Jato, minando a confiança na Justiça e levando à anulação de sentenças. O orçamento secreto permitiu a destinação de bilhões de reais sem rastreamento adequado, aumentando a opacidade na gestão pública.

O índice é baseado em múltiplas fontes, incluindo pesquisas com executivos, analistas de risco e organizações internacionais. Ele padroniza os dados para criar uma escala comparável entre países e se tornou um importante termômetro da credibilidade institucional. No entanto, fatores estruturais, como nível de desenvolvimento econômico e tradição democrática, podem influenciar as respostas, fazendo com que países com instituições mais sólidas pareçam menos corruptos, mesmo sem uma redução proporcional na prática da corrupção.

Se o Índice de Percepção da Corrupção mede percepção e não corrupção objetiva, por que ele importa? Porque a percepção influencia a confiança nas instituições, na economia e na democracia. Quando a corrupção é vista como endêmica, há um ciclo de desconfiança institucional que pode resultar em menor participação cívica, fuga de investimentos e enfraquecimento das políticas públicas. Podemos traçar um paralelo com a segurança pública: mesmo que os índices de criminalidade diminuam, se a população não se sente segura, há impacto na vida cotidiana, no consumo e na economia. Da mesma forma, um país que melhora seus mecanismos de controle pode, paradoxalmente, ter uma piora na percepção da corrupção, porque mais casos são expostos e discutidos.

O índice é uma ferramenta essencial para compreender tendências e comparar países, mas deve ser complementado com métricas objetivas, como o número de investigações e condenações por corrupção, a qualidade das auditorias e a transparência do gasto público, a adoção de medidas de compliance no setor público e privado e o acesso da população a informações sobre contratos governamentais.

Mais do que recuperar posições em um índice global, o desafio do Brasil é restaurar a confiança da sociedade no Estado. Para isso, é preciso aliar fiscalização eficiente a estratégias para fortalecer a integridade pública, garantindo que a percepção da corrupção não seja um reflexo da impunidade, mas sim da capacidade do país de enfrentá-la com seriedade.


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