O ano de 2025 começou quente, literalmente. Temperaturas extremas, chuvas torrenciais, alagamentos e mortes. Foi anunciada a saída dos EUA do Acordo de Paris, e uma redução drástica de financiamentos à sociedade civil e ataques a direitos duramente conquistados se colocam no horizonte.
Os últimos anos registraram recordes de temperatura sucessivos, com aumento assustador de eventos extremos climáticos. E 2024 ficou marcado como o momento em que, pela primeira vez desde o Acordo de Paris (assinado em 2015 durante a COP21), ultrapassamos o limite estabelecido para garantir as condições de vida humana na Terra, aquecendo o planeta acima de 1,5°C desde a Revolução Industrial.
Relatório divulgado pela World Weather Attribution e pela Climate Central no último mês de dezembro destacou que 2024 teve 41 dias a mais de calor em nível perigoso devido às mudanças climáticas. E que o clima extremo matou milhares de pessoas e forçou milhões a deixarem suas casas.
Efeitos das mudanças climáticas são sentidos por todas as pessoas e territórios, mas obviamente não da mesma maneira e intensidade.
Do mesmo modo que o Sul Global, que tem grandes contingentes populacionais e menos recursos para enfrentar os extremos climáticos, é mais afetado que o Norte Global, principal emissor de gases de efeito estufa e com padrões de consumo pouco sustentáveis, grupos politicamente minorizados são mais intensamente afetados.
Populações tradicionais, indígenas, quilombolas, agricultores familiares, mulheres e outros grupos nas periferias de grandes cidades sofrem mais com os efeitos extremos do clima e não dispõem de recursos para garantir a segurança e resiliência de suas comunidades diante desse quadro.
Eles são quem menos contribui para agravar o quadro das mudanças climáticas, além de trazer soluções coletivas, muitas vezes ancestrais, para enfrentar os extremos do clima em seus territórios.
A atuação de movimentos e associações da sociedade civil tem sido fundamental na resistência e adaptação às mudanças climáticas, com contribuições para o quadro brasileiro e global.
Basta pensarmos, por exemplo, na importância das brigadas voluntárias contra incêndio e sua atuação no Brasil nos últimos anos. Ou no quanto populações indígenas e quilombolas contribuem para a conservação de nossas matas pelo modo como vivem e se relacionam com a floresta.
No entanto, a mudança do clima se soma como mais uma camada que afeta de modo desigual esses grupos, que já sofrem com a desigualdade socioeconômica e a herança colonial racista estruturante e fundante do Brasil e da América Latina.
Por essa razão, o enfrentamento à crise climática precisa ser encarado como questão de promoção de justiça socioambiental e de garantia de acesso a direitos.
Decorridos 15 anos do Acordo de Paris, o Brasil se prepara para receber a COP30 em novembro, que tem sido destacada por integrantes do governo federal como a “COP da ação”. De fato, é preciso agir com urgência sob o risco mais do que iminente de colapso da vida na Terra. É preciso garantir agilidade e recursos financeiros para apoiar soluções climáticas locais.
Fica a pergunta, que não é de agora: quem coloca a mão nos bolsos para financiar as necessárias ações de adaptação para garantir a resiliência das populações mais vulneráveis aos efeitos do clima?
É da cooperação e da coletividade que essa resposta precisa vir. Não há solução única para uma questão tão complexa como a mudança climática. É preciso unir forças, esforços e vontades políticas para garantir que recursos financeiros cheguem aos territórios.
Exemplo de articulação nessa direção é o apoio emergencial às brigadas de incêndio voluntárias e comunitárias promovido pelo Fundo Casa Socioambiental —organização filantrópica independente com ampla experiência em fazer com que o recurso chegue de modo facilitado e rápido para apoiar territórios— e a Itaúsa, holding de investimento do Brasil que aportou recursos para esse apoio.
Foram selecionadas 30 iniciativas, em diferentes biomas do Brasil, focadas em custear a compra de insumos emergenciais relacionados ao combate, controle e monitoramento de focos de incêndios florestais, para que essas brigadas tenham condições necessárias de trabalho nos momentos emergenciais.
A filantropia, como todos os outros setores, tem contribuição importante no financiamento de soluções que já existem e são implementadas pela sociedade civil.
Apoios de fundos territoriais e organizações independentes doadoras (que acionam fontes variadas de financiamento para doar recursos à sociedade civil) emergem como importante meio de financiamento, na maioria das vezes representando a primeira fonte externa de recursos que esses grupos conseguem acessar.
O aprendizado que fica é que, para gerar impacto socioambiental e garantir justiça climática, é preciso buscar estratégias que garantam união de esforços e ampliação de recursos para apoiar a resiliência nos territórios. Com inovação, em arranjos que potencializem, apoiem e tragam escala às soluções climáticas locais.
2024 pode ter sido o primeiro ano do resto de nossas vidas miseravelmente afetadas pelo aquecimento que causamos ao planeta. Mas também pode trazer oportunidade para avançarmos em mudanças de paradigma importantes, rumo à ação de fato.
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