General com plano para assassinar Lula ‘assessorou’ Bolsonaro após derrota. Denúncia também leva em contra trocas de mensagens do general Mário Fernandes com Mauro Cid, na véspera do primeiro pronunciamento público do ex-presidente após ser derrotado em 2022. Apontado como o mais radical entre os militares, o general da reserva tinha em um HD planos detalhados para assassinar Lula, Alckmin e até o ministro do STF Alexandre de Moraes. Fernandes está preso desde novembro do ano passado.
No dia 9 de dezembro de 2022 o ex-presidente falou a apoiadores no Alvorada. Em mensagem de Whatsapp para Mauro Cid um dia antes, Fernandes afirmou ter se encontrado com Bolsonaro e ouvido do então presidente que a diplomação de Lula, no dia 12, não seria uma “restrição” e que “qualquer ação nossa pode acontecer até dia 31”. Ele também indicou ser o elo com os manifestantes, incluindo representantes do agronegócio e dos caminhoneiros, grupos que estavam na linha de frente das manifestações em frente aos quartéis-generais em 2022.
O caso deve ser analisado pela Primeira Turma do STF. Uma mudança no regimento interno do tribunal, em 2023, estabeleceu que as ações penais sejam julgadas nas Turmas. Como têm cinco ministros, as Turmas são menores e mais ágeis para julgar estes tipos de ações que podem levar à prisão.
Bolsonaro e outras 36 pessoas foram indiciadas pela PF em novembro do ano passado. O ex-presidente também foi indiciado em outros dois processos, que tratam de fraude em cartão de vacinação e desvio de dinheiro na venda de joias que ele recebeu de presente como chefe do Executivo. A PGR ainda não apresentou denúncia nesses dois casos.
Total de investigados subiu para 40. Em dezembro, a Polícia Federal indiciou mais três pessoas na investigação de tentativa de golpe de Estado em 2022.
Cronologia do plano golpista, segundo as investigações:
- 5 de julho de 2022 – Reunião ministerial cuja gravação foi encontrada com Mauro Cid. Nela, Bolsonaro discursa para 22 ministros e os conclama a agir, além de fazer vários ataques ao sistema eleitoral: “Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia?”
- 8 de novembro de 2022 – Mauro Cid envia áudio ao general Freire Gomes dizendo que Bolsonaro estava recebendo pessoas que o pressionavam a agir
- 9 de novembro de 2022 – Mário Fernandes imprime o plano Punhal Verde Amarelo, que previa o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, e o leva ao Alvorada. Ministério da Defesa divulga nota informando que encaminhou relatório sobre urnas ao TSE
- 12 de novembro de 2022 – Braga Netto se reúne com Mauro Cid e kids pretos em Brasília. As provas reunidas pela PF indicam que os militares começaram a colocar em prática o plano golpista após essa reunião
- 19 de novembro – Minuta golpista é apresentada a Bolsonaro no Alvorada por Felipe Martins e padre José Eduardo de Oliveira e Silva
- 29 de novembro – Militares e apoiadores de Bolsonaro disseminam carta aos generais os pressionando a aderir a teses golpistas
- 7 de dezembro – Nova versão da minuta, com ajustes, é apresentada por Bolsonaro aos comandantes do Exército e da Marinha e ao ministro da Defesa, no Alvorada
- 8 de dezembro – Kids pretos ativam celulares que foram utilizados no plano Copa 2022. Mário Fernandes se encontra com Bolsonaro
- 9 de dezembro – Bolsonaro rompe silêncio, fala com apoiadores, faz ajustes em minuta e se encontra com Estevam Theóphilo, que teria apoiado o golpe
- 14 de dezembro – Braga Netto xinga Freire Gomes de “cagão” em mensagem de Whatsapp para Ailton Barros, militar expulso do Exército que participava das articulações para pressionar os comandantes a aderir ao golpe
- 15 de dezembro – Kids pretos se mobilizam em Brasília e chegam a se aproximar da casa de Moraes para executar o plano Copa 2022. O plano, porém, é desarticulado por falta de apoio do comandante do Exército