Investigação sobre ditadura foi premissa para redemocratização argentina
Como disse o primeiro presidente eleito de forma direta no país após na redemocratização, Raúl Alfonsín, em 1983, não haveria democracia sem a investigação sobre os crimes da ditadura na Argentina.
Nesse sentido, destaca Alves de Freitas Neto, as investigações jurídicas retroalimentaram movimentos da sociedade civil, que pressionaram o estado em busca de respostas sobre os desaparecidos, como é o caso das Mães e Avós da Praça de Maio. “No Brasil, ao contrário, tivemos eleições indiretas e uma política de anistia feita para proteger os militares brasileiros, que considerou que eles não seriam investigados. Diferente da Argentina, o Brasil não desenvolveu políticas imediatas de memória. Lá, a consigna “Nunca Mais” virou política de Estado”, disse.
A certidão de óbito de Rubens Paiva, que saiu oficialmente em 1996— 25 anos depois de seu assassinato— só foi corrigida em 2025, quando foi atribuída “morte violenta ao Estado brasileiro”. O reconhecimento se deve aos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (2012-2014), que foi criada quase trinta anos depois do fim da ditadura brasileira (1964-1985) e também à projeção do filme baseado no livro de mesmo nome e escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado. Coincidência ou não, a correção no documento ocorreu no mesmo dia em que o longa de Walter Salles foi indicado ao Oscar.
Brasil negociou democracia, enquanto Argentina rompeu com a ditadura
A Argentina, diferente do Brasil, não teve um processo de negociação para a transição da democracia, mas “uma revisão explosiva e negativa para os militares”, apontou o sociólogo argentino, Marcos Novaro, professor na Universidade de Buenos Aires (UBA). “Os argentinos têm dificuldade em negociar e com os militares não foi diferente. Na época, havia grupos políticos dispostos a dialogar por uma transição, mas os militares foram inflexíveis, não queriam reconhecer as torturas, por exemplo. Apostaram na lógica do tudo ou nada”, explica Novaro.