Um Oscar para o espetáculo de terror do Hamas proporcionado ao vivo na entrega de quatro reféns mortos. Prêmio para melhor figurino, impecável, reservado apenas para cerimônias e deixado em casa pelos terroristas, no momento do combate, para se misturarem a civis e serem incluídos como tais na conta dos mortos. Outro prêmio para trilha sonora, bastante original usar músicas que soavam festivas no funeral macabro de uma mãe, seus dois filhos e um idoso. Talvez possa ser classificado de musical, visto que havia gente cantando diante da cena degradante.
Merece também reconhecimento especial pelo conjunto da obra na categoria fotografia. Numa semana, reféns com sinais evidentes de tortura e aparência de sobreviventes de campos de concentração. Na semana seguinte, exibição e desfile de caixões pretos. Para roteiro original, o teatro mórbido do Hamas ficou devendo. O Estado Islâmico já chocou o mundo com suas decapitações, usar a foto de uma família banhada em sangue no palco não causa comoção em quem trata terrorista como herói.
Talvez roteiro adaptado. Permitir a participação de civis, incluindo crianças de colo, numa celebração de morte é ousado mesmo para quem já está com a audiência na mão. Mas o Hamas já provou que a estupidez humana é infinita e sabe que pode dobrar a aposta, pode escalar o seu show de horror que seguirá sendo ovacionado. Os fãs do grupo devem ter adorado o plot twist reservado para a história. Uma família inteira é sequestrada, Shiri e Yarden Bibas e seus filhos Ariel, de 4 anos, e Kfir, de 9 meses. A mãe absolutamente apavorada, com os dois no colo, levada pelos “lutadores da liberdade”. É o cliffhanger (gancho) perfeito para uma história de terror. O que teria acontecido com eles?
Primeiro, libertam o pai, o que aumenta a expectativa de que os outros familiares estejam com vida. A estratégia é tão eficaz que repetem com outros sequestrados, como os idosos Oded e Yocheved Lifschitz. Duas semanas depois do 7 de Outubro, ela voltou para casa. Esta semana, Oded, um jornalista aposentado e ativista dos direitos humanos, Shiri e as duas crianças foram devolvidos dentro de caixões pelo Hamas. Mais reviravolta para o deleite dos sádicos: os restos mortais da mulher não foram reconhecidos como dela. Um desfecho banal para quem trata terrorista como resistência. Um final desumano, macabro, revoltante para quem ainda consegue juntar lé com cré.
Lá Fora
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Oded é um dos fundadores de Nir Oz, um kibutz no sul de Israel, onde um em cada quatro moradores foi assassinado ou sequestrado pelo Hamas. Uma comunidade socialista, morada de muitos ativistas que defendiam os direitos palestinos. Desde o 7 de Outubro, ninguém vive lá. Há casas queimadas, marcas de tiros por toda parte, rastros de sangue ao lado de camas. O refeitório coletivo tem cheiro de morte. A casa da família Bibas no kibutz, assim como as outras, parece-se com aquelas do Minha Casa, Minha Vida. Uma sala pequena com a cozinha conjugada, dois quartos e um banheiro. Na entrada, brinquedos e um carrinho de criança dividem espaço com um sofá velho e uma máquina de lavar roupa. O cenário é de vida interrompida.
O que o Hamas fez nesta quinta-feira (20) não é apenas trágico para as famílias das vítimas que têm que lidar com a dor da perda de forma pública e cruel. Foi um ato completamente fora dos limites de qualquer coisa que possa ser considerada humanidade. Um ataque direto aos valores que nós, em sociedades democráticas, defendemos como sagrados: respeito pela dignidade humana, justiça e direitos humanos.
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