Temperaturas altas não harmonizam com bebidas de alto teor alcoólico. Em dias de calor como os que tivemos em São Paulo, pelo menos para mim, o vinho já é alcoólico demais. Por mais geladinho que chegue à mesa, esquenta a gente por dentro. Como não sou da cerveja, sofro no verão. Sidras e fermentados de outras frutas são uma ótima opção nessas horas. Aqui no Brasil, no entanto, apesar da enorme variedade de frutas que temos, desde que me conheço por gente, nunca foi muito fácil achar essas bebidas nos bares e restaurantes de São Paulo. Isso começa a mudar.
Prova dessa mudança é o sucesso que tem feito o Festival Sol, Sede e Sidra, do Cacho Bar, um pequeno bar de vinhos em Perdizes inaugurado há poucos meses. O festival começou no dia 8 de fevereiro com uma festa que lotou. A proprietária, Leandra Lima, conta que vendeu praticamente toda a Sidra que tinha.
Eu não estava em São Paulo no dia da abertura do festival e perdi. Esta semana, no entanto, consegui ir conhecer a casa e provar as sidras. Provei vários. Gostei muito. Vi as pessoas a meu redor pedirem mais sidra do que vinho.
Leandra fez uma carta com cinco sidras de fato, ou seja, bebidas fermentados de maçã, e sete outros fermentados de frutas, com preços variando R$ 49,00 e R$ 241,00, a garrafa, e de R$ 32,00 a R$ 58,00, a taça. Uma sidra da Bretanha (França), outra das Astúrias (Espanha) e o resto tudo do Brasil. De várias partes do Brasil: Rio Grande do Sul, do Acre, do litoral de São Paulo, da grande São Paulo. Tudo com bolhas, claro.
Uma das mais baratas da carta, a sidra francesa Le Kerné me surpreendeu pela elegância e frescor. Aliás em todas as de maçã que provei, o que inclui ainda a Sidra II 2022 Macerada, da gaúcha Vivente Vinhos, e a Sidra de Maçã, da paulista Cia dos Fermentados, não senti aquele aroma de maçã cozida, de torta de maçã, que eu esperava por experiências passadas. A fruta nestas três sidras aparece fresca, ainda com acidez e seu aroma original. O álcool, em todas elas, é baixo: 4%, 7,4% e 8%, respectivamente.
Muito interessante é o espumante sem nada de álcool de cacau e cumaru da Japi, de Boiçucanga, em São Sebastião, no litoral de São Paulo. Já conheci os refrigerantes dessa pequena fábrica artesanal. São muito bons. O espumante, no entanto, é mais delicado, lembra mais um vinho. E a garrafa é linda. Na verdade, não leva o nome espumante no rótulo. Por lei, só fermentados de uva podem fazer isso. Está definido como bebida fermentada.
Da lista, eu já conhecia o delicioso hidromel Frambô, da Montaneus (RS), e super fresquinho Cupuaçu, da Florisa (AC). Entre os fermentados de fruta, vários da Cia dos Fermentados, que conheço bem e gosto muito. Tem de acerola, caju, jabuticaba. Os sócios Fernando Goldenstein Carvalhaes e Leonardo Alves de Andrade estiveram comigo em Trancoso no Organic Festival. Na ocasião, conversamos bastante sobre como, num país com a diversidade de frutas que existe no Brasil, é um desperdício se fermentar apenas uvas.
As frutas várias vezes nascem no mato. São nativas ou estão muito bem adaptadas. É fácil cultivá-las de forma orgânica. Fermentados de frutas brasileiras são, além de tudo, mais ecológicos. A pegada de carbono deles é muito menor.
Leandra conta que aprendeu a gostar de sidras nas cidreries de Paris. Diz que pretende manter uns dois ou três rótulos na sua carta depois que o festival acabar. O Sol, Sede e Sidra vai só até o dia 28. Corre lá!
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