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Existem três razões majoritárias, mas não exclusivas, para um país ter incidência de fome. Uma é a população não ter acesso a renda para comprar os alimentos disponíveis, outra é o mercado mais próximo não dispor de alimentos para venda e a terceira é a inflação, com preços que inviabilizem a compra.

No momento, a inflação dos alimentos, a ausência de busca ativa para o recebimento do Bolsa Família e a falta de mapeamento dos desertos alimentares são a fronteira para sairmos do Mapa da Fome.

De acordo com relatório da ONU de 2024, o Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014 e sustentou a posição até 2018. Voltou a ele no triênio 2019-2021 e se mantém lá até então.

O relatório destaca avanços importantes no Brasil, como a queda da insegurança alimentar severa, por exemplo, que saiu de 8,5% para 6,6% no período 2021-2023. No entanto, permanecemos no Mapa da Fome. O que pode atrapalhar o Brasil na reversão desse quadro?

Caso a produção de alimentos de um país não seja suficiente para atender às necessidades de sua população, é necessário importar alimentos. No caso do Brasil, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a produção nacional supera em 32% as necessidades domésticas, portanto, em termos gerais, produzimos internamente o que precisamos para nos alimentar.

O superávit na produção pode ter uma utilidade indireta no combate à fome, via redução no preço dos alimentos. Um país que não precisa importar tende a ter preços mais baixos. Não aproveitarmos nossa capacidade para manter os alimentos em preços baixos atrapalha, e muito, o combate à fome e à insegurança alimentar.

A transferência pública de renda aos mais vulneráveis aliada a uma redução do preço da comida é uma estratégia eficaz. Dessa forma, o poder de compra das famílias vulneráveis fica maior tanto pelo Bolsa Família quanto pela redução do preço da comida de qualidade.

A taxa de inflação média anual de janeiro de 2020 a dezembro de 2022 era de 11,7%, passou para 3,7% em 2023 e para 4,8% em 2024, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A projeção para 2025 é de crescimento. Estamos impondo a perda do poder de compra aos mais vulneráveis e, como era de se esperar, ampliando o desafio de tirar o país do Mapa da Fome.

A inflação é um desafio para esse combate partindo do pressuposto de que todos os vulneráveis estão, de fato, recebendo o Bolsa Família, de que não há famílias desassistidas pelo programa e de que a busca ativa para encontrar os mais pobres é efetiva.

Para além da transferência de renda e da inflação, um terceiro desafio, muito pouco discutido, mas não menos importante, é a ausência de mapeamento dos desertos alimentares. São os territórios com acesso físico limitado a alimentos nutritivos e de qualidade, como as comunidades nas quais os mercados vendem majoritariamente alimentos ultraprocessados e de baixa qualidade nutricional, como salgadinhos e biscoitos.

Nesses locais, o desafio é fazer chegar alimentos saudáveis. Pesquisas e estudos que mapeiam a existência dos desertos alimentares são de extrema importância. Somente a partir dessas pesquisas é possível desenhar políticas públicas de combate aos desertos alimentares.

O Brasil tem os três dispositivos para a erradicação da fome em suas mãos. Precisamos aperfeiçoar o controle da inflação dos alimentos, a busca ativa para o recebimento do Bolsa Família e o mapeamento dos desertos alimentares. Essa combinação será determinante para o tempo que levaremos para sair, mais uma vez, do Mapa da Fome.


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