No dia 6 de agosto de 1945, o sr. Tsutomu Yamaguchi estava em Hiroshima a trabalho. Às 8h15 da manhã, a bomba atômica explodiu. O sr. Yamaguchi ficou ferido, passou a noite num abrigo, e no dia seguinte resolveu voltar para casa. Ele morava em Nagasaki. Apesar dos ferimentos, no dia 9 de agosto o sr. Yamaguchi apresentou-se no seu local de trabalho.
Às 11h da manhã desse dia, quando descrevia ao seu chefe o que tinha visto três dias antes, em Hiroshima, explodiu a bomba de Nagasaki, a três quilômetros do lugar em que o sr. Yamaguchi se encontrava. O sr. Yamaguchi, como é óbvio, morreu. Morreu em 2010, aos 93 anos. As bombas atômicas bem tentaram, mas não conseguiram apanhá-lo. Emboscaram-no o melhor que puderam, como naquela história em que a morte tem encontro marcado com um homem em Samarcanda.
Eu quero ser como este japonês. Sinto o mundo ficar cada vez mais hostil. Está tentando me cercar com as alterações climáticas por um lado, a ameaça da guerra nuclear por outro. Mas, como o sr. Yamaguchi, eu vou desafiá-lo. Não faço de propósito. É que não consigo evitar.
As coisas me parecem demasiado absurdas para serem verdadeiras. O presidente dos Estados Unidos, famoso pelas suas façanhas do mundo do imobiliário, resolveu abordar a política internacional com a atitude de um empreiteiro. Olhou para a Groenlândia e viu uns terrenos que lhe interessam. Quer fazer um Club Med na Faixa de Gaza. Entretanto, pensando na guerra da Ucrânia concluiu que foi o país invadido que a começou.
A minha vida começa a se parecer com a do sr. Yamaguchi. Bem sei: quando eu vou à janela não vejo uma nuvem em forma de cogumelo. Mas, como Marx bem observou, a história se repete, primeiro como tragédia e depois como farsa. E o certo é que, quando ligo a televisão, assisto a declarações de um presidente que parece ter ingerido certos cogumelos.
A Casa Branca publicou uma fotografia de Donald Trump com uma coroa na cabeça e a legenda “Viva o rei”. Mas eu olho para ele e, em vez do rei, continuo a ver o bobo. Parece impossível que o fim do mundo chegue por causa dele. Mas, conhecendo a história do mundo, talvez seja um final apropriado.
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