Acontece que os Isley Brothers, que cantaram aquele sucesso da Motown de 1966 “This Old Heart of Mine (Is Weak for You)” [este meu velho coração é fraco por você], estavam certos ao associar a idade a um coração dolorido e enfraquecido.
A doença cardíaca, a principal causa de morte e incapacidade nos EUA, foi diagnosticada em cerca de 6% dos americanos entre 45 e 64 anos, mas em mais de 18% daqueles com mais de 65 anos, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Corações envelhecidos são fisiologicamente diferentes. “O coração fica mais rígido à medida que envelhecemos”, disse John Dodson, diretor do programa de cardiologia geriátrica da NYU Langone Health (sistema de saúde acadêmico nos EUA). “Ele não se enche de sangue tão facilmente. Os músculos não relaxam tão bem.”
A idade também altera os vasos sanguíneos, que podem se tornar rígidos e causar hipertensão, e as fibras nervosas que enviam impulsos elétricos ao coração. Afeta também outros órgãos e sistemas que desempenham um papel na saúde cardiovascular. “Após os 75 anos é quando as coisas aceleram”, disse Dodson.
Mas nos últimos anos, melhorias dramáticas nos tratamentos para muitos tipos de condições cardiovasculares ajudaram a reduzir tanto os ataques cardíacos quanto as mortes cardíacas.
“A cardiologia foi abençoada com muito progresso, pesquisa e desenvolvimento de medicamentos”, disse Karen Alexander, que ensina cardiologia geriátrica na Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA). “Os medicamentos estão melhores do que nunca, e sabemos como usá-los melhor.”
Isso pode complicar a tomada de decisões para pacientes cardíacos na casa dos 70 anos ou mais. Certos procedimentos ou regimes podem não prolongar significativamente a vida dos pacientes mais velhos ou melhorar a qualidade dos anos restantes, especialmente se já sofreram ataques cardíacos e estão lidando com outras doenças também.
“Não precisamos abrir uma artéria só porque há uma artéria para ser aberta”, disse Karen Alexander, referindo-se à inserção de um stent. “Precisamos pensar na pessoa como um todo.”
Pesquisas recentes indicam que algumas abordagens médicas frequentemente usadas não trazem benefícios para pacientes mais velhos, enquanto poucos deles aproveitam uma intervenção que realmente ajuda.
Aqui está um pouco do que os pesquisadores estão aprendendo sobre corações envelhecidos:
Um choque no coração
Um desfibrilador cardioversor implantável, ou CDI, é um pequeno dispositivo alimentado por bateria que é colocado sob a pele e fornece um choque em caso de parada cardíaca súbita. “É fácil vender essas coisas para os pacientes”, disse Daniel Matlock, geriatra e pesquisador da Universidade do Colorado (EUA). “Você diz: ‘Isso pode prevenir a morte súbita cardíaca.’ O paciente diz: ‘Isso parece ótimo.'”
Em 2003, o Medicare expandiu a cobertura de CDIs em pacientes com insuficiência cardíaca, mesmo aqueles sem arritmias de alto risco, e “isso simplesmente decolou”, disse Matlock.
De 2015 até setembro de 2024, cirurgiões implantaram 585 mil desses dispositivos no peito de pacientes, de acordo com o registro do Colégio Americano de Cardiologia. Provavelmente é uma subcontagem, já que nem todos os hospitais participam do registro.
Mas em 2017, entre pacientes com insuficiência cardíaca não isquêmica (o que significa que o coração não está bombeando efetivamente, mas não há artéria bloqueada), outro estudo influente mostrou que CDIs não reduziram a mortalidade para pacientes com mais de 70 anos. O dispositivo apenas preveniu mortes súbitas cardíacas, observaram os autores —e essas ocorrem mais frequentemente em pacientes mais jovens.
Além disso, “aos 85 ou 90 anos, a morte súbita não é necessariamente a pior coisa que pode acontecer”, disse Matlock, em comparação com a morte por “insuficiência cardíaca progressiva, que pode ser rápida ou durar anos; é imprevisível.” O impacto de um choque de CDI também pode assustar e angustiar pacientes mais velhos, que muitas vezes não sabem que o dispositivo pode ser desativado com um computador.
Cardiologistas e pesquisadores ainda debatem quanto os CDIs beneficiam pacientes mais velhos. Mas como os medicamentos cardíacos se tornaram muito mais potentes desde 2005, um grande estudo em vários locais está em andamento para determinar, entre pacientes com menor risco de morte súbita, se apenas os medicamentos podem agora ser mais eficazes.
Procedimentos invasivos
Os medicamentos sozinhos já parecem ser pelo menos tão eficazes no tratamento de pessoas mais velhas que sofreram o tipo de ataque cardíaco não causado por uma artéria subitamente e completamente bloqueada. (Tecnicamente, esses são chamados de NSTEMI, para infarto do miocárdio sem elevação do segmento ST.)
Metade desses ocorrem em pessoas com mais de 70 anos, disse Vijay Kunadian, professor de cardiologia intervencionista na Universidade de Newcastle, na Inglaterra, e autor principal de um estudo recente no The New England Journal of Medicine.
“As pessoas mais velhas muitas vezes estão sub-representadas na pesquisa”, disse Kunadian. “Há muitos preconceitos preconcebidos.” Então, sua equipe recrutou uma amostra mais velha do que o típico (idade média de 82 anos) para comparar os benefícios do tratamento conservador e invasivo.
Metade dos 1.500 pacientes no estudo começou um regime de medicamentos cardíacos que incluía anticoagulantes, estatinas, beta-bloqueadores e inibidores da ECA. A outra metade recebeu tratamento mais invasivo, começando com um angiograma (um raio-X dos vasos sanguíneos). Então, aproximadamente metade desse grupo recebeu um stent ou, em números muito menores, passou por cirurgia de ponte de safena. Esses pacientes também foram prescritos os mesmos tipos de medicamentos que os pacientes tratados apenas com medicamentos.
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Ao longo de quatro anos, a equipe não encontrou diferença no risco dos pacientes de morte cardiovascular ou um ataque cardíaco não fatal. Embora os riscos cirúrgicos geralmente aumentem com a idade, as complicações foram baixas em ambos os grupos.
Diante de tais situações, pacientes mais velhos e suas famílias precisam fazer perguntas importantes, disse Karen Alexander: “Como isso vai me ajudar, e quais são as outras opções, especialmente se for invasivo? É necessário? E se eu não fizer isso?”
Kunadian concordou. “Um tamanho não serve para todos neste grupo”, disse ela. O tratamento invasivo não beneficiou os pacientes, mas também não os prejudicou.
Ainda assim, disse Kunadian, “se eles são muito frágeis, vivendo em uma casa de repouso com demência, com uma série de outras condições, é razoável dizer que é do interesse deles usar apenas a terapia médica.”
Reabilitação cardíaca
Uma intervenção conhecida por beneficiar pacientes com doenças cardíacas é a reabilitação cardíaca: um programa de exercícios regulares e supervisionados que reduz significativamente ataques cardíacos, hospitalizações e mortes cardiovasculares.
Mas a reabilitação cardíaca continua sendo subutilizada. Apenas cerca de um quarto dos pacientes elegíveis participa, disse Dodson, e entre os adultos mais velhos, que poderiam se beneficiar ainda mais, a proporção é ainda menor.
“Existem barreiras para pessoas na faixa dos 70 e 80 anos”, disse ele. Elas precisam comparecer a uma instalação para se exercitar, então às vezes “o transporte é um problema.”
E, acrescentou, “as pessoas podem ficar descondicionadas ou com medo de atividades. Elas podem se preocupar em cair.”
O programa presencial da NYU Langone envolve três sessões de exercícios por semana durante três meses, com aconselhamento nutricional e psicológico. Como a inscrição entre os idosos estava decepcionante, os pesquisadores tentaram replicá-lo com um programa remoto.
Eles o ofereceram a pacientes (idade média de 71 anos) com doença cardíaca isquêmica (causada por artérias estreitadas, que impedem o fluxo de sangue e oxigênio para o coração) que sofreram um ataque cardíaco ou passaram por um procedimento de stent. Cada um recebeu um tablet e acesso à banda larga para que pudessem realizar um programa de reabilitação em casa. Um terapeuta de exercícios fazia check-ins por telefone semanalmente.
A participação em casa diminuiu com o tempo, no entanto. Após três meses, aqueles designados para a reabilitação remota não mostraram maior capacidade funcional — medida por quão longe podiam caminhar em seis minutos — do que um grupo semelhante que seguiu o cuidado usual.
Foi porque os idosos tiveram dificuldades com a tecnologia? Ou temiam se exercitar com problemas cardíacos? Exercitar-se pessoalmente, ao lado de outros em esteiras e elípticos, inspiraria mais engajamento?
“Precisamos descobrir qual é o sistema de entrega mais eficaz”, disse Dodson. “O que é mais motivador para pacientes mais velhos?” Ele tentará novamente.