Mas, sempre, a confusão inicial é tamanha e o subdiagnóstico parece ser tão grande que nem se sabe direito quantos casos existem pelo mundo — há quem diga que, atualmente, são uns 200 mil, pouco mais de 2.000 deles no Brasil.
O fato de a maioria dos registros ser em gente mais velha já pode complicar a vida, ou melhor, o tratamento. Isso porque, nessa faixa etária, muitos já apresentam um probleminha no coração, diabetes e outros males que não deixam o organismo tão inteiro para enfrentar uma terapia contra o câncer. Ainda mais — o que seria o ideal, na situação — um transplante de medula.
A notícia fresca para essas pessoas que não aguentariam ser transplantadas ou que têm uma doença bem resistente é que acaba de aterrissar no Brasil, trazida pela farmacêutica de origem francesa Sanofi, uma nova medicação, que já está sendo usada em mais de 50 países. O nome é complicado: isatuximabe.
Trata-se de um anticorpo monoclonal, isto é, um anticorpo produzido em laboratório que vai direto ao ponto, ou melhor, vai direto à CD38, proteína abundante apenas na superfície das células com esse tipo de câncer. Por isso, deixa os exemplares sadios em paz, gerando bem menos efeitos colaterais. A novidade, que vem sendo prescrita ao lado de drogas que já eram empregadas contra o mieloma múltiplo, promete ser um divisor de águas.
Em um estudo publicado no ano passado, acompanhando pacientes com mieloma múltiplo por 60 meses, os cientistas notaram que, acrescentando o “isa”, como a molécula vem sendo carinhosamente chamada entre eles, 63% dos pacientes permaneceram vivos e, melhor, cheios de ânimo. Porque a doença ficou sob absoluto controle, estancada, sem progredir. E isso graças a um medicamento que não cobra o preço de arrasar com a qualidade de vida. Novos trabalhos aumentam a aposta sugerindo que, com esse tratamento, o tempo livre de progressão do mieloma múltiplo possa superar os 90 meses.
Que doença é essa
O mieloma múltiplo é um câncer que surge na medula, que seria a fábrica do nosso sangue. Outras doenças, bem mais comuns e conhecidas, também têm origem ali: a leucemia e o linfoma. “O que faz o mieloma múltiplo ser diferente é o tipo de célula que se torna maligna. Estamos falando justamente das células do plasma. Ou, sendo mais específico, daquelas que produzem os anticorpos com os quais nosso organismo se defende de infecções”, diz o hematologista Joseph Mikhael. E talvez ninguém melhor do que ele para explicar essa condição.