Na sala de reunião da editoria de política de um grande jornal, alguns repórteres discutem as pautas da edição do dia seguinte.

O chefe de Redação interrompe: “Pessoal, vamos começar. O que vocês me trouxeram? Só quero coisa boa, hein?”.

Um repórter novato olha para seu caderno de anotações e sugere: “O Bolsonaro foi denunciado pelo PGR ao STF. Parece que ele foi líder da tentativa de golpe mesmo”.

“E qual manchete?”, questiona o chefe.

“É… que tal ‘Bolsonaro é denunciado pela PGR por tentativa de golpe’?”

O chefe gira os olhos: “Mais um que não leu nosso Manual de Redação. Então, garoto, você não deve saber das nossas políticas internas. Nós não tomamos um lado nos fatos”.

“Mas não é um lado. É só o que aconteceu mesmo. A PGR denunciou o ex-presidente”, retruca o jovem.

“Mas soa como se a gente tivesse a favor. Temos que mostrar sempre um contraponto.” O chefe tem uma ideia: “Que tal ‘Bolsonaro é denunciado por tentativa de golpe, mas tentar não é crime'”.

“Tentar é crime sim”, rebate o funcionário.

“É a sua opinião. Mas nós somos um jornal isento.”

“Podemos pegar a opinião de alguém de fora do jornal, para explicar a denúncia”, sugere o repórter.

O chefe sorri: “Boa! ‘Bolsonaro é denunciado por tentativa de golpe. Tarcísio alega ser forçação de barra’”.

“Mas o Tarcísio foi eleito com apoio do Bolsonaro”, se irrita o repórter.

“Opiniões sempre têm um lado… Próxima!”

O jovem repórter tenta novamente: “Além de Bolsonaro, 23 militares das Forças Armadas tentaram golpe”.

“Falta o contraponto. Que tal: ‘23 oficiais tentaram o golpe, mas outros não tentaram’”.

“Não faz sentido! 23 oficiais é muita gente.”

“Na sua opinião”, rebate o chefe.

O repórter olha para seu caderno: “Tem mais uma, ‘PGR tem indícios de que Bolsonaro concordou com o plano de matar o presidente Lula’”.

“Então pode botar: ‘Plano de Bolsonaro de matar Lula é só indício’.”

“Ah, pra mim chega. Não dá para trabalhar desse jeito”. O repórter joga as coisas no chão e sai pelo elevador.

O editor-chefe suspira: “Mais um que se vai”. O chefe fala para o resto da equipe: “Mas fazer o quê? É a opinião dele”. Ele olha para os repórteres restantes: “Que mais temos para hoje? Quero coisa boa hein?”.

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