“A gente é aquilo que a gente faz nos dias de Carnaval. No resto do ano, a gente se fantasia para aguentar o tranco da vida”, me disse uma vez o Edgard Gouveia Júnior. Já a KZ me ensina sobre presença, responsabilidade e cuidado.
Eu sei, você e as suas amizades estão ansiosas para chegar ao bloco favorito de vocês. Eu também. Mas a motorista do ônibus não tem culpa do congestionamento, dos desvios do trânsito, daquele homem ali que atravessou a rua, do nada, fazendo com que ela freasse com tudo. Considere isso.
Eu sei, você e as suas amizades querem a bebida preferida de vocês bem gelada, quase congelada, eu também, mas aquela pessoa que atravessou a cidade com um isopor na cabeça para tirar o sustento da família não tem culpa pelo calor. E nem merece receber estes resmungos de insatisfação. Considere isso.
Eu sei, você e as suas amizades estão com muita fome, brincaram cinco blocos seguidos sem parar. Mas o garçom que as atendeu está fazendo o melhor que pode, com a estrutura que tem. E é possível que por estes dias não esteja dormindo mais que três ou quatro horas. Eu sei, a gente está na festa. Mas a festa não está para todo mundo ao mesmo tempo. Considere isso.
Mariana KZ e as suas garrafinhas me contam todos os anos que só a presença nos faz perceber quem está ao nosso lado. E quem percebe, se implica. Daí é que vem tudo que vem depois: não responsabilizar quem dirige o ônibus que te leva para a festa, não descontar a sua frustração pessoal em quem só está trabalhando. Não pressionar, ainda mais, quem precisa se multiplicar para atender 13 mesas em vez de duas, como acontece nos outros dias.
Brinque muito com o seu Carnaval, seja feliz. Todo mundo diz por aí que não existe nada parecido e realmente não deve existir. Mas cuide das pessoas que irão trabalhar nos lugares em que você for. Festa boa é quando é uma boa festa para todas as pessoas ao mesmo tempo. E não esquece: não é não.