Há tempos, não escrevo sobre o Coritiba. Falsos elogios e críticas conciliadas com as redes, tornam-se falta de respeito. Só que agora, eliminado da Copa do Brasil por um semiamador chamado Ceilândia, e sob o potencial risco de ser excluído do Estadual, pelo Maringá, não escrever é omitir-se.
Como não sou daqueles que entra na zona de conforto do jornalismo, que é adaptar a crítica às reações do torcedor, entendo que a situação do Coxa é bem mais complexa do que os resultados de campo. Por isso, criticar o treinador Mozart, incentivando a sua demissão e afirmar que esse é o pior Coritiba de todos os já formados, é enganar.
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Por ser complexa, a questão reclama de imediato uma resposta: o Coritiba SAF, da Treecorp Investimento, tem futuro?
A resposta não pode apanhar só fatos recentes, que são aquele que ocorrem desde dezembro de 2023, quando as ações da sociedade passaram a ser um patrimônio do grupo de Bruno Levi D’Ancona.

Não se pode ignorar que a causa da transformação jurídica do Coritiba, de instituição para sociedade, não foi a busca pela modernidade. Foi a busca da salvação contra o sucateamento patrimonial, técnico e moral, que os próprios coxas provocaram na grande instituição. Depois de Evangelino, só Gionédis e Ribeiro de Andrade foram responsáveis.
Sem entrelinhas, direto ao ponto: a Treecorp adquiriu ações de uma sociedade em Recuperação Judicial, com risco de quebra.
Os departamentos básicos para a sua administração, em especial, o futebol, estavam com o sistema digital avariado ou inutilizado (computador, por exemplo). As coisas de maior necessidade, eventualmente, faltavam, como o papel de impressão e higiênico.
Em resumo, o Coritiba estava estragado.
Só que ao tornarem público o negócio, a instituição e a sociedade, esqueceram de um detalhe: combinar tudo com o povo. Haveria um prazo razoável para a recuperação física e pessoal da administração, para só depois investir no futebol. Isso implicaria que o sucesso no futebol seria uma exceção e não uma regra.
Não só deixaram de disciplinar a torcida desse fato, como anunciaram um investimento superior a R$ 1 bilhão. Dito de outra forma: criaram a falsa ilusão de que o Coritiba SAF seria o velho Coritiba de guerra, de conquistas estaduais e nacionais.
O grau de complexidade da questão atinge ao máximo com a contradição que ocorre. O mecanismo administrativo está recuperado, a prestação das obrigações na Recuperação Judicial está regular, os jogadores e funcionários não reclamam de atrasos, os novos fornecedores e credores recebem em dia. No entanto, no futebol, investe-se dentro de um orçamento que, pela natureza da empresa acionista, é inflexível, o que resulta em fracassos contínuos.
Resultado: por tratar-se de futebol e de uma instituição que tem a segunda maior torcida em Curitiba, vê-se apenas os fracassos no campo, desprezando-se a recuperação administrativa e financeira.
O que fazer? Busca-se uma revisão das obrigações da sociedade para afastar a sua timidez no futebol ou disciplina-se a torcida para esperar mais um pouco?
Coritiba não tem poder de ação
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Ocorre que nem a instituição, por faltar um grande coxa, não tem poder de ação. E a sociedade não tem voz sequer para defender as suas razões. O CEO, cargo que está vago, é um empregado, cuja oração não tem crédito. William Thomaz, no comando é desprezo à coisa séria. O pouco investimento no futebol dilui-se, ainda mais, na falta de um operador capaz no comando do setor.
A sociedade parecendo ser impessoal, por ser silente e fria, trata o Coritiba como um investimento como tantos que têm na sua carteira de negócios. Mas, por tratar-se de um clube com grande poder popular e história centenária, é um desprezo, não podendo ser tratado como um negócio qualquer.
O que fazer? Os dois, Coritiba SAF e Coritiba instituição, estão correndo do bicho. Se ficarem, o bicho come.
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