Informações na mesma linha
Telefone: (21) 97026-3221
Endereço: Rua Viçosa do Ceara, 157, Paciência, Rio de Janeiro - RJ

“Eu amo o agricultor.”, foi a declaração de Donald Trump nesta terça-feira (4) no Congresso americano. Logo em seguida, no entanto, pediu paciência para o produtor.

Trump iniciou a guerra comercial, levando também o agronegócio para esse confronto. Além de impor tarifas nas importações de produtos manufaturados, prometeu entraves na compra externa de produtos agropecuários, o que afeta o Brasil.

A guerra comercial com a China visa os manufaturados, que somam US$ 219 bilhões, considerando os cinco principais produtos exportados. No agronegócio, a soma das exportações americanas dos principais itens é de apenas US$ 19 bilhões.

China, Canadá e México já estão reagindo. Os chineses definiram tarifas para as compras de frango, trigo, milho e algodão, com taxa de 15%. Uma dezena de outros produtos, inclusive soja, terá tarifa de 10%.

O produtor rural americano, base eleitoral do presidente, está apreensivo. As entidades representantes do setor já se manifestam, indicando que as discussões sobre relações comerciais deveriam ser de outra forma, e não tão agressivas.

No mandato anterior de Trump, o setor perdeu importância no comércio mundial, o que persiste até hoje. À época, Trump teve de injetar US$ 23 bilhões de subsídios para contornar a perda de renda do setor.

O cenário mundial agora é ainda pior. Os custos de produção subiram, e os preços das commodities estão em baixa. O lucro líquido do produtor americano caiu 24% em dois anos, e o número de falências subiu para 216 no ano passado, 55% a mais do que no anterior.

As exportações crescem em ritmo bem menor do que o das importações. Estas estão previstas em US$ 220 bilhões neste ano, gerando um saldo negativo de US$ 49 bilhões na balança do agronegócio, se as previsões do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) se confirmarem.

Trump está afrontando três dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos nesse setor: México, Canadá e China. Juntos importaram o correspondente a US$ 83 bilhões de produtores americanos do agronegócio no ano passado.

Trump prometeu também tarifas nas importações de produtos agropecuários. Recomendou ao produtor que se prepare para dias melhores e aumento de vendas internas. O resultado, porém, vai ser uma elevação dos preços internos e da taxa de inflação.

A oferta de carne bovina, por exemplo, um dos produtos de peso nas importações dos americanos, não tem muito espaço para crescer. O rebanho dos Estados Unidos está estacionado em 86 milhões de cabeças, o menor número em sete décadas.

A colocação de mais tarifas sobre a carne bovina pesaria muito no bolso do americano, uma vez que o Brasil, um dos principais fornecedores dessa proteína aos Estados Unidos, já paga 26,4% de tarifa na entrada do produto brasileiro em território americano.

A grande discussão é quanto o Brasil vai ganhar nessa disputa entre Estados Unidos e os outros parceiros comerciais. Os avanços devem ser pontuais, uma vez que a China já vem comprando menos dos Estados Unidos desde o primeiro mandato de Trump. Um eventual acerto entre os dois, no entanto, elevaria as compras chinesas de produtos agrícolas dos americanos.

Além de a China já estar ajustada no mercado internacional, após o primeiro tranco do Trump no mandato anterior, a produção interna do país asiático vem aumentando.

Neste ano, produzirão 707 milhões de toneladas de grãos, um volume recorde e que reduz a necessidade de importações de vários produtos, inclusive a de milho, onde o Brasil poderia ganhar mercado.

No setor de proteínas, a maior necessidade dos chineses vem da carne bovina, uma vez que a produção de frango e suína voltou ao normal, após a ocorrência de doenças nesses setores nos anos recentes.

Se Trump realmente colocar barreiras à carne bovina brasileira nos Estados Unidos, o segundo maior mercado do Brasil, os americanos vão pagar mais ou essa proteína terá de ser enviada para outros compradores, sem ganho de volume nas vendas externas. Além da carne, o café e o açúcar estão na lista dos principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos.

O Brasil pode ganhar espaço no México, país que abriu o mercado para vários produtos brasileiros nos últimos anos. No Canadá, a promessa de aumento vem do suco.

O namoro de Javier Milei, presidente da Argentina, com Trump também pode render frutos ao Brasil, uma vez que essa guinada argentina, se ocorrer, afasta a China das compras de carne e de soja do país vizinho.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.