Hollywood tem uma longa tradição de descartar mulheres depois dos 40. Mas também tem o péssimo hábito de não reconhecer a grandiosidade de atrizes jovens sem antes submetê-las a uma narrativa de provação. Demi Moore, aliás, é prova viva disso. Quando era a maior estrela do cinema, nos anos 90, nunca foi indicada ao Oscar porque era “comercial demais”, “bonita demais”, “bem-sucedida demais”, “jovem demais”. Agora, quando finalmente teve sua chance de levar a estatueta, perdeu para uma atriz que está começando sua trajetória.
A essa altura, já deveríamos ter aprendido que essa história de rivalidade feminina é uma grande armadilha. Mas é difícil escapar dela quando crescemos ouvindo que só pode haver uma mulher brilhando por vez. E isso sem sequer entrar na questão racial.
Se Mikey Madison fosse um homem vencendo um veterano, estaríamos falando de “passagem de bastão”, de uma “nova era para o cinema”. Mas, como se trata de duas mulheres, o discurso automaticamente vira uma disputa.
No fim, essa polêmica diz menos sobre elas e mais sobre nós. Sobre como aprendemos a desconfiar do brilho feminino quando ele vem sem sofrimento. Sobre como, mesmo quando tentamos defender uma mulher, acabamos atacando outra. Sobre como o machismo nos coloca em um jogo onde, seja jovem ou mais velha, a mulher sempre parece estar na posição errada.
Demi Moore viveu os dois lados dessa moeda: primeiro sendo subestimada quando jovem e agora sendo vista como uma atriz que deveria ser reconhecida “antes que seja tarde demais”.
Demi Moore merecia esse Oscar? Sim. Mikey Madison também? Sim. Mas quem deveria ter levado? Para mim, Fernanda Torres. O problema nunca foi uma delas. O problema sempre foi uma premiação que faz com que pareça que só há espaço para uma.