Informações na mesma linha
Telefone: (21) 97026-3221
Endereço: Rua Viçosa do Ceara, 157, Paciência, Rio de Janeiro - RJ

Foram décadas de dedos apontados para o povo alemão, questionando as omissões que teriam levado Hitler ao poder. Hoje, no entanto, assistimos à saudação nazista de Elon Musk durante a posse do novo presidente dos Estados Unidos passar quase sem repercussão. O mesmo governo que endossa o gesto corre para abraçar Netanyahu, prometendo lotear Gaza. Assiste-se ao ocaso das democracias sob a lupa de Daniel Ziblatt e Steven Levitsky.

Tal descalabro não encontra resposta da oposição, perplexa diante da profusão de processos judiciais e da política do nonsense promovida por Steve Bannon, arquiteto da incivilidade.

Nós, ao sul do Equador, subsumidos à sigla Maga (Make America Great Again), que promete nos engolir, lemos, estarrecidos, manchetes na Folha colocando em questão o processo contra a tentativa de golpe durante a eleição presidencial brasileira. O que pretendem aqueles que fazem coro desqualificando a denúncia de golpe e, no limite, a parca democracia que nos resta? As notícias que vêm dos Estados Unidos não lhes são suficientemente aterradoras? Ou será justamente sua eloquência que os atrai, na expectativa de se alinharem aos poucos que dominarão, sem qualquer compromisso com a justiça, os demais?

O governo Lula, por sua vez, mostra-se incapaz de adotar uma postura vigorosa e inequívoca diante do risco que as eleições de 2026 representam, preferindo governar como se estivéssemos sob um céu de brigadeiro. Ou será que estamos?

É notória a falta de esperança daqueles que, até pouco tempo, comemoravam as eleições de 2022, quando um dos poucos candidatos comprometidos com uma agenda socioambiental e econômica voltada para o bem comum subia a rampa. Não se trata do desânimo com promessas de campanha sempre muito além do exequível, mas da postura amorfa e hesitante diante de um mal maior que se anuncia sem disfarces.

No Brasil, o candidato mais forte da direita veste a camisa do trumpismo para não deixar dúvidas sobre suas intenções: em nome do neoliberalismo, reviver a monarquia. Segundo lembrou Maureen Dowd em artigo no New York Times, a célebre frase atribuída a Calígula faz eco na boca de Trump: “Faço o que quiser com quem quiser”.

Em “Conclave”, filme de Edward Berger, o racismo, a transfobia, a corrupção e o pragmatismo não deixam espaço para o sonho de coletividade, restando ao terrorismo furar o claustro político. A questão é se vamos escutar o terror como sintoma do mal-estar ou se vamos redobrar a aposta na violência que o fomenta. Assistam.

Em frente ao tribunal onde Luigi Mangione está sendo julgado pela morte do CEO da UnitedHealthcare, um grupo se reúne pedindo sua liberdade. Tempos loucos, nos quais um assassino confesso é defendido publicamente por pais de família que se veem impotentes diante da máquina das seguradoras de saúde.

Será essa a oposição cínica e destrutiva que nos restará diante do descalabro do autoritarismo competitivo —termo que Levitsky e Way empregaram na Folha no domingo? Torço para que não.

Escutar o mal-estar do nosso tempo, dar-lhe voz e buscar saídas éticas diante de seus impasses tem sido a aposta da psicanálise na clínica e no espaço público.

Só resta pedir: um esforço a mais, republicanos.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.