Sabe aqueles restos de alimentos, como cascas de frutas, talos de vegetais, borra de café e sobras de pratos que a maioria das pessoas joga fora todos os dias? Pois é… No Brasil, produzimos mais de 34 milhões de toneladas de resíduos orgânicos por ano, praticamente metade dos resíduos que produzimos no país.
Agora, adivinha para onde vai tudo isso? Em vez de serem reaproveitados, esses resíduos vão para lixões e aterros sanitários.
Nesses locais, a decomposição sem oxigênio gera metano, gás de efeito estufa 80 vezes mais potente que o dióxido de carbono no aquecimento global. Além disso, a mistura dos resíduos orgânicos com outros rejeitos forma o chorume, líquido altamente tóxico e de tratamento complexo.
O problema não para por aí. Milhares de caminhões de lixo cruzam diariamente as cidades, consumindo combustíveis fósseis para transportar toneladas de resíduos orgânicos que são compostos, em maioria, por mais de 70% de água. Esse processo ineficiente custa bilhões de reais por ano aos cofres públicos para enterrar restos de alimentos que poderiam ser transformados em adubo.
Quanto tempo mais demorará para percebermos que todo esse “lixo” tem um valor enorme? Que ele pode virar adubo, regenerar o solo, fortalecer a agricultura, promover educação ambiental e ainda ajudar no combate à crise climática?
A compostagem é um processo natural que devolve à terra o que veio dela. Simples, eficiente e acessível. Em vez de desperdiçar, podemos devolver os nutrientes para o solo. Em vez de poluir, podemos regenerar.
A grande maioria dos resíduos orgânicos produzidos no Brasil podem ser transformados em adubo de excelente qualidade no próprio local de geração. Em outras palavras, os restos de alimentos da maioria das casas, apartamentos, condomínios, escolas, indústrias, pousadas e hotéis podem ser compostados no próprio local.
Além da compostagem in loco, também há a opção de direcionar esses resíduos para um pátio de compostagem ou central de biodigestão. Quanto tempo mais levaremos para transformar essa realidade?
Há uma boa notícia nessa direção: o governo finalmente entendeu que não dá mais para continuarmos desperdiçando esse potencial. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima está desenhando o Planaro (Plano Nacional de Redução e Reciclagem de Resíduos Orgânicos Urbanos).
A proposta visa reduzir o desperdício de alimentos e ampliar o potencial da reciclagem de resíduos orgânicos urbanos no Brasil. Em outras palavras, fazer com que o país pare de enterrar matéria orgânica como se não houvesse amanhã.
Imagine restaurantes, condomínios, escolas e empresas compostando seus próprios resíduos, sem precisar mandar para longe —isso reduz custos e emissões de carbono. Já com as centrais, municípios e empresas teriam apoio técnico e financeiro para criar espaços onde os resíduos orgânicos pudessem ser transformados em adubo e energia.
No âmbito da agricultura regenerativa, seria possível conectar o composto orgânico com quem mais precisa: agricultores que hoje dependem de fertilizantes minerais caros e importados. E, para que a compostagem vire hábito e deixe de ser uma prática isolada, o plano prevê incentivo a programas educativos e a regulamentação da compostagem nos municípios.
Agora, pensa só no impacto disso. Menos resíduos nos aterros. Menos metano na atmosfera. Menos desperdício. Mais empregos verdes. Mais solo fértil. Mais conexão entre as pessoas e a natureza.
Além de compostar, você também pode contribuir com a elaboração do plano, pois a versão preliminar do Planaro está aberta para consulta pública até 31 de março.
Participe deste movimento. Transformar resíduos em vida não é só uma necessidade, é ato de regeneração social e ambiental.
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