Um corte de merlot e cabernet franc de São Sebastião da Grama (SP), o Casa Tés 2022 é o único vinho brasileiro na lista World’s Best Sommeliers’ Selection 2025, divulgada na terça-feira (25). A seleção inclui 123 rótulos. Conheço o vinho e sua história. No ano passado, almocei com o produtor. Depois conto sobre isso. Vamos primeiro entender por que essa lista é importante.
Criada pelo grupo inglês William Reed, em sua segunda edição, ela ainda é pouco conhecida dos brasileiros. Tenho certeza, no entanto, que logo isso vai mudar. O grupo é o mesmo que produz o ranking de restaurantes de maior prestígio do mundo, o World’s 50 Best Restaurants, e seus filhotes, como o World’s 50 Best Restaurants Latin America e o World’s 50 Best Bars . Eles são responsáveis também por uma série de outros produtos ligados a gastronomia e hospitalidade, entre eles o World’s Best Vineyards. Tudo o que fazem vira referência.
Além disso, estar nessa lista é estar na lembrança dos sommeliers de 50 dos melhores restaurantes do mundo. Quando um produtor conseguiria apresentar o seu vinho para tantas pessoas em postos-chave ao mesmo tempo?
À diferença das listas de restaurantes, bares ou vinícolas, a seleção dos vinhos não é feita apenas por indicação da rede mundial de embaixadores e jurados do grupo. Há uma degustação para escolher os melhores.
Para chegar à seleção de 2025 da World’s Best Sommeliers’ Selection, 50 sommeliers (de restaurantes que fazem parte das diferentes listas dos 50 bests), de 18 países diferentes, se reuniram em janeiro na Inglaterra para provar uma série de rótulos que haviam sido enviados por produtores das mais diversas partes do mundo. O sommelier brasileiro Danyel Steinle, do restaurante Nelita (21⁰ lugar no World’s 50 Best Latin America 2024), de São Paulo, entre eles.
Para incluir seus vinhos na degustação, os produtores não desembolsam um tostão — a nãoser o custo do envio, é claro. Não há taxa de inscrição. Os participantes são indicados pelos sommeliers e outros profissionais da fenomenal network da William Reed e são convidados a participar. Podem também solicitar um convite. A solicitação será analisada pela equipe.
A degustação, diferentemente do que acontece na maioria dos concursos, não é às cegas. Os jurados recebem informações não só sobre os vinhos, mas também sobre sua história. Afinal, na sua origem, a 50 Best surgiu para falar de hospitalidade. O tal do storytelling aqui conta pontos.
Para quem quiser conhecer em detalhes a história da Casa Tés, sugiro que leia o delicioso texto Solos vulcânicos e ‘Pelé’ dos Vinhos são aposta de nova vinícola paulista, a Isabelle Moreira Lima publicou em sua coluna em maio.
Resumindo muito, a vinícola existe desde 2017, mas só no ano passado começou a vender e apresentar seus vinhos. São vinhos de colheita de inverno, como a grande maioria dos vinhos finos do Sudeste. Os tintos, no entanto, não são de syrah como na maioria das vinícolas que usam a dupla poda para colher no inverno. O proprietário e fundador da Casa Tés, o advogado paulista Pedro Testa, ama os vinhos de Bordeaux, em especial o Cheval Blanc, e insistiu em plantar merlot, cabernet franc e cabernet sauvignon.
Os vinhos são muito bons, mas o que mais me impressionou no meu almoço com Pedro no início de 2024 foram a sua determinação e a sua autoconfiança. Pedro afirmou mais de uma vez, sem titubear, que estava produzindo o melhor vinho brasileiro, que seus vinhos fariam história.
Era evidente que tinha um magnetismo para reunir ótimos profissionais. No almoço estava também presente o experiente Massimo Leoncini, que prestava serviços para a vinícola e estava convencido da superioridade dos vinhos. Pouco depois, fiquei sabendo que contratou como enólogo consultor ninguém, ninguém menos do que o enólogo do Cheval Blanc, o francês Pierre Lurton, que, para sorte de Pedro, é casado com uma brasileira.
Por tudo isso, o sucesso do Casa Tés 2022 não me surpreende, embora eu ache que ele ainda precisa de alguns anos para chegar a seu auge. Se você estiver pensando em comprá-lo, boa sorte. O vinho, que custa R$ 520,00, não se encontra em qualquer lugar. Com uma produção pequena, a vinícola trabalha com sistema de alocação (uma espécie de reserva) e escolhe para quem vender. Procure no site deles.
Voltando à World’s Sommeliers’ Selection, eu gostaria de sugerir que, no próximo ano, busquem mais vinhos brasileiros. Tem muita coisa boa, com ótimas histórias. Sugiro também que as vinícolas busquem convite para participar. Basta se inscrever no site.
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