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Estive conversando com um cliente nesta semana e, assim que nos cumprimentamos, ele foi direto ao ponto:

“Michael, tenho um dinheiro adicional para enviar, mas desta vez queria um investimento liquidez diária, baixíssimo risco, ou seja, sem oscilação, vencimento curto e alto retorno, por exemplo, mais de 120% do CDI.”

Parei por um instante apenas para ele achar que eu estava pensando, pois já sabia a resposta. Mas logo respondi: “Esse é o investimento perfeito! O Santo Graal das aplicações financeiras! Liquidez diária, sem risco, prazo curto e um retorno acima da média. Pena que ele não existe.”

Ainda incrédulo, ele riu, mas ficou pensativo. Foi então que expliquei melhor como funciona o equilíbrio entre liquidez, prazo e risco. Quando falamos de investimentos, há sempre um jogo de compensações entre três fatores principais: liquidez, prazo e risco. O investidor pode otimizar dois deles, mas dificilmente terá os três ao mesmo tempo com um retorno bem acima da média como ele desejava.

Esse conceito é similar e se aproxima ao bem conhecido “trilema da economia”, que afirma que não é possível ter simultaneamente câmbio fixo, política monetária independente e livre circulação de capitais.

No mundo dos investimentos, essa lógica também se aplica: se você deseja alto retorno, precisa estar disposto a abrir mão de algo. Pode escolher assumir mais risco, aceitando oscilações no valor do investimento. Ou pode abrir mão da liquidez, mantendo o dinheiro aplicado por um prazo mais longo.

Mas esperar que um ativo reúna liquidez diária, risco zero e retorno elevado é como querer comprar um carro de luxo novinho, mas pagando o preço de um econômico usado.

Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, explica em seus estudos sobre finanças comportamentais que os investidores muitas vezes buscam segurança e rentabilidade ao mesmo tempo, ignorando que há sempre uma troca entre risco e retorno. Essa ilusão os faz perseguir investimentos “perfeitos”, que simplesmente não existem.

Quando um investidor insiste na liquidez como prioridade e, ao mesmo tempo, quer alto retorno, acaba caindo em um paradoxo. Se o investimento for de baixo risco, os ganhos serão modestos porque a segurança tem um custo. Já se o ativo for de maior risco, ter liquidez pode ser um problema, pois vender no momento errado pode resultar em prejuízos. É como querer apostar em um jogo, mas sem correr o risco de perder. Se isso fosse possível, os cassinos já teriam falido há muito tempo.

Um bom exemplo disso aconteceu em 2008, durante a crise financeira global. Muitos investidores aplicavam em ativos que pareciam seguros e líquidos, mas quando precisaram resgatar, descobriram que a liquidez era ilusória. Isso mostra que, muitas vezes, um investimento parece seguro até que uma crise acontece.

O que deveria guiar a decisão do investidor é o seu objetivo e a função que aquele dinheiro terá na carteira. Se o foco for segurança e liquidez, o retorno será naturalmente menor, pois os ativos mais conservadores são justamente aqueles que garantem previsibilidade. Se o foco for ganhar mais, o investidor deve estar preparado para abrir mão da liquidez ou assumir oscilações ao longo do tempo.

No fim da conversa, o cliente percebeu que, nos investimentos, como na vida, sempre há um preço a pagar. O que não dá para fazer é exigir o impossível e depois culpar o mercado pela realidade. Entender essa dinâmica é essencial para tomar decisões financeiras mais inteligentes.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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