A Polícia Federal (PF) deve encaminhar ainda nesta quinta-feira (21), ao Supremo Tribunal Federal (STF), o relatório final do inquérito que apura a suposta elaboração de um plano golpista para evitar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após a eleição de 2022. A expectativa é que cerca de 40 pessoas sejam indiciadas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus principais aliados.
O documento será entregue ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso na Corte. Ele, então, deve enviar os autos para a análise do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Uma das possibilidades é que o PGR apresente uma denúncia conjunta contra o ex-presidente, envolvendo também outras investigações em curso, como a das joias sauditas e da fraude no cartão de vacina.
Para a PF, não há dúvidas de que o ex-presidente tentou articular um golpe de Estado depois de ser derrotado nas urnas – movimento que levou à invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Ele deve ser acusado de crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
O papel do ex-presidente na trama golpista, segundo os investigadores, ficou mais claro em fevereiro, com a deflagração da Operação Tempus Veritatis. De lá para cá, a PF colheu dezenas de depoimentos e reuniu novos indícios contra Bolsonaro e integrantes do antigo governo.
Na terça-feira, uma nova operação foi deflagrada, a Contragolpe. Quatro militares e um policial federal foram presos sob a suspeita de participar de um plano para matar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e Moraes. Uma reunião para discutir a empreitada foi realizada na casa do general Walter Braga Netto, que foi ministro e candidato a vice de Bolsonaro.
De acordo com o que já foi revelado até agora, Bolsonaro organizou reuniões, inclusive no Palácio da Alvorada, para discutir a chamada “minuta do golpe”. O debate envolveu até mesmo os comandantes das Forças Armadas, para dar legitimidade aos atos.
Os relatos dos ex-chefes do Exército e da Aeronáutica, Marco Antônio Freire Gomes e Carlos de Almeida Baptista Jr., foram considerados essenciais para confirmar que Bolsonaro e seus auxiliares chegaram a preparar um decreto para instituir Estado de Defesa no país e impedir que Lula chegasse à Presidência.
Baptista contou ainda que, em uma das reuniões, Freire Gomes teria dito que precisaria prender o então presidente se ele tentasse colocar o plano em prática.
Já o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, teria colocado as tropas que chefiava à disposição de Bolsonaro, segundo relatos. Ele optou pelo silêncio ao ser interrogado.
Outro personagem importante desse caso é o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O militar tem uma audiência marcada com Moraes nesta quinta-feira (21), após a PF apontar que ele omitiu informações ao fechar a sua delação premiada. Além da possibilidade de o acordo ser suspenso, ele pode ir preso novamente.