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Vou começar este post com uma pergunta que provavelmente vai soar como conversa de maluco: você já ouviu falar dos barmácidas, gentil leitor? Não? Jura?

Tá, é lógico que não. Do nosso ponto de vista no Brasil, o nome é completamente obscuro. Bom, aposto que deste sujeito cá embaixo (ou na imagem de destaque do post) você já ouviu falar, principalmente se foi criança nos anos 1980/1990 ou teve crianças em casa nesse período em diante.

Trata-se, é claro, do vizir Jafar, vilão do desenho animado “Aladim”, talvez a melhor coisa que a Disney produziu nesse período graças ao carisma incrível de Robin Williams no papel do Gênio da Lâmpada. Mas, predileções sobre animação à parte, o fato é que Jafar se baseia (OK, muito de longe e com inúmeras liberdades criativas) num vizir de mesmo nome que serviu ao califa Harun al-Hashid, um dos mais famosos líderes da história islâmica. Jaʽfar ibn Yahya Barmaki (767-803 d.C.), era, conforme sugere seu “sobrenome”, um membro da família dos barmácidas.

E é aí que a história fica ainda mais fascinante, porque os barmácidas, ou descendentes de Barmak, são um exemplo dos mais ilustrativos para entendermos o que aconteceu com a expansão do Islã pelo Oriente Médio e a Ásia Central nos séculos 7 e 8 da nossa era. Acontece que os ancestrais de Jafar originalmente eram líderes hereditários… de um mosteiro budista. Pode até ser que o nome Barmak derive do sânscrito, a língua clássica da Índia, onde o budismo nasceu.

Os barmácidas originalmente controlavam o grande mosteiro duplo budista de Nava Vihara, na cidade de Balkh (norte do atual Afeganistão). Tanto o território afegão quanto muitos outros lugares da Ásia Central tinham contado com ampla população budista a partir dos primeiros séculos da nossa era. Tornaram-se centros intelectuais dessa religião e recebiam visitantes até mesmo da China em busca de manuscritos antigos e mestres.

Com a expansão islâmica na região, Balkh foi conquistada em 705. O patriarca da família budista na época, conhecido apenas como Barmak, teria sido convocado para tratar um dos filhos do califa, o comandante supremo dos muçulmanos, e, como teve sucesso, ganhou os favores do governante. Não se sabe se ele próprio se converteu ao islamismo, mas certamente seu filho e neto, respectivamente avô e pai de Jafar, trocaram de religião e continuaram subindo na hierarquia do governo muçulmano, ajudando inclusive a projetar a construção da cidade de Bagdá. Os inimigos da família chegaram a espalhar boatos de que a conversão deles teria sido apenas superficial e que, na intimidade, continuavam sendo budistas.

E a fama de vilão de Jafar? Isso provavelmente tem a ver com o fato de que o califa Harun al-Rashid mandou executar seu mais poderoso assessor, mas não há provas claras de que Jafar tenha tentado trair o califa.

Mais detalhes estão no fenomenal livro “The Golden Road”, de William Dalrymple, a respeito do qual já escrevi por aqui.


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