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A primeira história contada por Ecoa foi a dela, sabia? Em outubro de 2019. Quem lutou incansavelmente pela aprovação da chamada PEC das Domésticas – garantindo direitos básicos como carga horária de 8 horas, FGTS e seguro-desemprego -, foi ela. Em 2013. Se estivesse aqui, Luiza me corrigiria assim: “Ô, meu querido, eu te agradeço por dizer isso, viu. Mas é como dizem, né; nenhuma de nós é mais importante que todas nós juntas.”

No perfil escrito pela também brilhante jornalista Débora Britto, aparece tudo isso aí. E aparece mais. O começo de tudo na luta por moradia, no seu amado bairro de Peixinhos. O ensino fundamental que conseguiu completar aos 50 anos, numa felicidade que só. As dores e humilhações que a Luiza sofreu, antes mesmo de saber dar nome para todas aquelas coisas.

“Com nove anos eu fui trabalhar numa residência, onde passei seis meses. A patroa era muito intolerante, mesmo sendo professora. Eu não conhecia luz elétrica e, quando ela me mandou acender a lâmpada e eu perguntei pelo ‘fosco’ – pois eu não sabia pronunciar a palavra fósforo -, ela me chamou de burra, imbecil, idiota. Repetiu isso várias vezes, e eu só olhava para ela e chorava”, contou na entrevista.

Isso foi seis décadas atrás, 60 anos. O que doía na Dona Luiza é que ela sabia que histórias assim se repetiam enquanto ela dava entrevistas feito aquela. É por isso que seus olhos se enchiam de água. Só perdiam para o coração, que transbordava coragem. Diz um outro pedaço da entrevista:

“Em um dos lugares onde trabalhei já adulta, eu enfrentei um câncer de mama. Me tratei e voltei a trabalhar. Certo dia, eu estava fazendo feijoada para a família da patroa e disseram: ‘Luiza é como uma pessoa da família’. E eu respondi: ‘Espera aí! O que existe aqui é respeito. A senhora paga os meus direitos direitinho, mas eu não sou da família. Não me sento à mesa com vocês, não durmo na área social, não participo das decisões. Não estou no plano de saúde nem no testamento. Então eu não sou da família’. Aí ela disse que, depois do câncer, eu estava ficando atrevida.”.

Em nossa última conversa, Dona Luiza me contou que andava precisando de mais vida. Que o mundo ainda tinha luta demais para se lutar. Que entendia os recados do corpo, mas que os recados do espírito eram maiores. Sopravam mais fortes. Se somos um país um tiquinho menos desigual para quem saiu de casa hoje, às 4 da manhã, longe uma, duas horas do trabalho, é porque a Luiza Batista passou por aqui.