Para José Roberto de Toledo, o Brasil teve dois vírus que prejudicaram o mercado cultural, em especial o cinema: o coronavírus e o Bolsonaro. “E juntos eles provocaram um estrago ainda maior”, afirmou.
A pandemia afetou profundamente a estrutura da indústria cinematográfica nacional. Houve uma desestruturação da produção e uma mudança profunda dos hábitos de consumo, aponta o estudo. Enquanto outras manifestações culturais, como shows musicais, tiveram recuperação mais rápida, o cinema sofreu com a migração do público para as plataformas de streaming.
Um dos dados mais reveladores da pesquisa é o abismo geracional no consumo de cinema. Entre jovens de 16 a 24 anos, 74% (três em cada quatro) afirmam ter ido ao cinema no último ano, e apenas 6% nunca frequentaram salas de exibição. Em contraste, apenas 26% das pessoas com 60 anos ou mais foram ao cinema no mesmo período, e 16% nunca assistiram a um filme em uma sala de exibição.
Esse perfil demográfico influencia diretamente o mercado, privilegiando comédias como gênero de maior sucesso comercial. “O mercado brasileiro é um mercado que privilegia a comédia, isso é uma tradição que vem de longo tempo”, contextualizou Toledo, citando sucessos como os filmes dos Trapalhões, produções de Paulo Gustavo e, mais recentemente, “O Auto da Compadecida 2”.
Nesse cenário, o sucesso de um drama como “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, representa uma exceção. Segundo fontes do setor, o filme dirigido por Walter Salles alcançou números expressivos de bilheteria, mas Toledo alerta que não se deve esperar uma revolução no mercado a partir de um único título.
“Não é a responsabilidade do ‘Ainda Estou Aqui’ revolucionar o cinema brasileiro”, ponderou o colunista, que vê o filme como uma oportunidade para atrair um público mais adulto às salas. Para ele, a mudança estrutural só vai acontecer quando tiver “sistemas de financiamento eficazes, eficientes, que atendam a demanda do público e ofereçam cinema de qualidade.”