“Não há limites para a mulher na ferrovia, a mulher pode fazer qualquer setor, qualquer função.” Assim define a presença feminina nos trilhos a maquinista Natália Thomaz de Omena Lima, 39, que há um ano conduz um trem da Rumo Logística e disse ter encontrado no sistema ferroviário o desafio que procurava em sua carreira.
Universo outrora exclusivamente masculino, as ferrovias passaram a contar nos últimos anos com mulheres em funções como manobradoras, maquinistas e mecânicas, num movimento crescente em concessionárias de transporte de cargas e de passageiros. Na Rumo e na CCR Metrô Bahia, elas já somam um terço dos cargos de chefia.
“Gosto do desafio, de olhar para trás e ver aquela composição toda que estou conduzindo, é uma sensação de dever cumprido quando entrego a composição em segurança no local indicado”, afirmou Natália, que antes de chegar à Rumo trabalhou no setor administrativo de uma empresa de transportes, foi faxineira, babá, vendedora e vigilante, até chegar à ferrovia.
O interesse surgiu quando trabalhava numa empresa terceirizada que atendia a Rumo e viu homens manobrando um trem. Decidiu parar e conversar com um dos funcionários, que afirmou que a empresa estava abrindo vagas para mulheres no setor.
Passou por treinamentos em Araraquara e em Rio Claro, até trabalhar na Baixada Santista. Após quatro meses como manobradora, surgiu a proposta de conduzir a máquina. Voltou a Araraquara para o curso, até assumir uma composição.
O caminho trilhado por ela faz parte de um movimento intensificado nos últimos cinco anos na empresa, e que culminou no ano passado com a formação da primeira turma de maquinistas, com cerca de 40 mulheres, segundo a executiva Bruna Alcântara Perpétuo, vice-presidente de Gente, Cultura & Segurança da Rumo.
“O sonho do maquinista não é só do homem, o maquinista é muito apaixonado pela profissão, o ferroviário é muito apaixonado”, afirmou.
A Rumo hoje tem em seu quadro 1.250 mulheres, o que representa um crescimento de 15% em relação a um ano atrás. São manobradoras, maquinistas, mecânicas e eletricistas, entre outras atividades.
Em 2022, elas eram 830. Dos 300 líderes existentes no grupo, 30% são mulheres, de acordo com Bruna, e duas —ela inclusive— ocupam cargos de vice-presidência.
Isso aconteceu de forma acelerada nos dois últimos anos e tem como exemplo a construção da ferrovia estadual em Mato Grosso, que deverá ser concluída no início da próxima década. No local, elas atuam em funções como engenheiras, projetistas e na área de segurança do trabalho.
“A gente está nesse momento de transformação da sociedade, em que a gente começa a ocupar posições mais pesadas, de liderança, a Rumo foi se abrindo para esse movimento até de forma natural […] Quando você cria um grupo diverso, cria possibilidade de desenvolver ideias e opiniões distintas que tornam uma tomada de decisão mais assertiva”, disse a executiva.
Já no metrô que atende a capital baiana, Salvador, e Lauro de Freitas, 32% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres e, segundo a CCR Metrô Bahia, o objetivo é ampliar a presença feminina na empresa.
Operadora de trem já há nove anos e nove meses, Steffane Souza Guimarães disse se sentir muito lisonjeada e orgulhosa de desempenhar a função.
“Satisfeita e muito feliz por ter chegado até aqui. Mesmo sendo uma função tradicionalmente masculina, me sinto totalmente capaz de exercer não só essa função, como muitas outras porque sou forte e muito determinada e, com essa determinação de uma mulher guerreira que sou, entendo que não existem funções de homem e de mulheres, mas sim funções que precisam de pessoas que atuem todos os dias motivadas a fazer dar certo”, disse.
Para crescer a presença feminina, a concessionária afirma que tem investido também na sensibilização do público masculino para a mudança.
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O sistema ferroviário baiano transporta mais de 400 mil passageiros por dia em 38 quilômetros de trilhos, que passam por 22 estações e 10 terminais integrados.
Steffane afirmou que sempre gostou de trabalhar com pessoas e entende que o operador de trem, além de ter uma responsabilidade muito grande nas mãos, “também transporta ali milhares de pessoas com sonhos e objetivos de vida diferentes”.
“Foi aí que me encantei e decidi me preparar para o processo seletivo interno. Apesar de saber que poderia enfrentar diversas dificuldades, de saber que teria que me esforçar muito, pois a função exige não só seriedade, mas muito autocontrole para lidar com todas as intercorrências do dia a dia, eu estava disposta a superar tudo isso, porque o desafio é justamente o que me move, me torna mais forte, mais resistente e me faz evoluir como pessoa e como profissional.”
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