Nos últimos dias, a PEC que propõe o fim da jornada de trabalho 6×1 ganhou destaque nas redes sociais e nas principais mídias do Brasil. Após uma pressão crescente nas plataformas digitais e manifestações organizadas por movimentos sociais, que tomaram as ruas de diversas cidades, incluindo São Paulo, finalmente a proposta foi encaminhada ao Congresso Nacional. Esse é um passo importante, mas a realidade é que a jornada 6×1 deveria ter sido extinta muito antes.
A jornada 6×1 é, na prática, um regime escravista disfarçado, que retira do trabalhador o direito fundamental de ter uma vida saudável, equilibrada e digna. Não há tempo para cuidar de si, para estudar, descansar, ter hobbies ou até para estar com a família. Essa sobrecarga de trabalho não é apenas uma questão de tempo, mas de qualidade de vida. Os argumentos de que a eliminação desse modelo comprometeria a economia são falaciosos, assim como foi no caso da CLT ou do 13º salário, sabe-se que a resistência ao progresso é apenas um artifício de quem se beneficia da exploração da mão de obra da população.
O impacto da jornada 6×1 é especialmente prejudicial para as mulheres que estão em situação de vulnerabilidade social. Além da exaustiva carga horária, elas ainda assumem responsabilidades domésticas e o cuidado com os filhos, o que agrava ainda mais a sobrecarga. Esse problema se torna ainda mais grave para as mães solo, que representam uma parcela significativa das mulheres no Brasil.
Segundo dados do IBGE, cerca de 11 milhões de mães solo vivem no país. Essas mulheres, na maioria das vezes, precisam trabalhar incessantemente para garantir o sustento de seus filhos, mas, com isso, acabam não conseguindo oferecer a atenção e o cuidado que as crianças precisam. Além disso, muitas vezes não têm tempo nem para cuidar de si mesmas. A sobrecarga diária resulta em uma pressão constante, que impacta diretamente sua saúde, criando um ciclo de desgaste emocional e físico.
Esse cenário reflete uma sociedade que ensina as mulheres a serem multitarefas, equilibrando inúmeras demandas sem nunca deixar nada cair. No entanto, esse equilíbrio é impossível de ser mantido por muito tempo. Como resultado, vemos um aumento significativo nos índices de depressão, ansiedade e burnout entre as mulheres. A economia do cuidado, que implica o trabalho invisível do cuidado familiar, é uma realidade que precisa ser urgentemente enfrentada. As mulheres gastam, em média, 20 horas a mais por semana do que os homens com essas tarefas, o que as coloca em uma situação ainda mais desafiadora.
A PEC que coloca fim à jornada 6×1 não é apenas uma mudança no regime de trabalho, é uma oportunidade de reverter uma estrutura de exploração e garantir que as mulheres possam buscar um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Qualidade de vida deve ser a prioridade, não o excesso de trabalho. Esta é uma causa que envolve toda a sociedade, mas atinge de forma direta as mulheres, que têm sido sobrecarregadas com a dupla jornada de trabalho.
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O que não podemos mais é continuar romantizando o excesso de trabalho. A luta pela igualdade e pelo direito a uma jornada digna não é apenas uma questão política, mas humana. Este é o momento de implementarmos políticas públicas que realmente beneficiem as mulheres, que têm sido protagonistas de uma revolução silenciosa em diversos setores do nosso país.
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