Ele é intenso e introspectivo na mesma medida, emprestando verdade não só ao Senna dos holofotes, que uma geração inteira acompanhou pela TV, mas também ao piloto em sua vida pessoal, sempre reservada, que ganha aqui uma janela insuspeita.
Para efeitos de narrativa, “Senna” criou a figura de uma repórter esportiva, Laura Harris, que se torna uma espécie de biógrafa não oficial do piloto desde que ele trocou São Paulo pela Inglaterra, no começo dos anos 1980, para competir na Fórmula Ford e disparar sua carreira internacional.
Interpretada pela inglesa Kaya Scodelario, que não raro interage com Leone em português quase sem sotaque (sua mãe é brasileira), a personagem é um avatar expositivo —e crítico— que condensa de forma inteligente os saltos da carreira de Senna.
Biografias esportivas seguem, de forma generalizada, uma “fórmula” em comum. Existe o protagonista superando barreiras, internas e externas, para chegar à vitória. A figura de um antagonista sempre ajuda o fluxo narrativo. E o esporte —seja futebol, atletismo ou xadrez!— tem de ser retratado de forma empolgante. É a jornada do herói, com medalhas e um pódio no final.
“Senna” marca todas as caixinhas com louvor. A evolução do piloto é entrecortada pelo caos de sua vida pessoal —ou falta de—, representada em especial por seu relacionamento com a apresentadora Xuxa Meneghel (em caracterização perfeita de Pâmela Tomé). Existe acerto dramático ao acentuar sua rivalidade com o piloto francês Alain Prost (Matt Mella). Sua vida em família é retratada como refúgio à rotina inquieta dos campeonatos.