Estou viciada nas palestras que a Teaching Company publica nos Estados Unidos como Great Courses [Grandes Cursos]. Décadas atrás, ela enviava fitas VHS e, mais tarde, DVDs com séries de palestras sobre tudo, de história romana a pintura impressionista francesa. Eu as consumia avidamente, em certo ponto assistindo enquanto corria na esteira. A ideia era duplicar —fazer exercícios enquanto aprendia verbos irregulares gregos antigos, por exemplo. Sou economista. Eficiente, não?
Não. Os verbos são muito difíceis e a corrida também. No restante do dia, eu não conseguia me forçar a fazer nada difícil. Ficava sentada. A duplicação havia esgotado minha capacidade de me disciplinar. Os seres humanos são assim. Limitam sua capacidade de ser “racionais”, como mostrou o economista Herb Simon 50 anos atrás. Ele ganhou um Nobel, mas ninguém levou a discussão a sério. Grande erro.
Agora voltei à Teaching Company, mas apenas assistindo às palestras, sem fazer mais nada ao mesmo tempo. A empresa dá acesso pela internet a centenas de cursos e palestras. Se seu inglês for bom, experimente. Os empresários brasileiros precisam saber que a empresa tem um plano de negócios viável. Façam os cursos em português!
Volto do trabalho para casa e assisto às palestras. Tornou-se realmente insano. Nos últimos seis meses, fiz, ou pelo menos comecei, três séries diferentes de palestras de um professor de engenharia da academia militar dos EUA, sobre engenharia cotidiana, uma série sobre construções gregas e romanas e, em seguida, uma sobre desastres de engenharia. Ótimo material. Fiz cursos sobre química do ensino médio, química orgânica, todos os tipos de história, equações diferenciais, números de Fibonacci, linguística, ciência do cérebro, espanhol e alemão. E grego antigo. Novamente aqueles verbos irregulares difíceis.
E daí? Deirdre é maluca. Você já sabia disso.
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Ao lado de Simon e uma série de outros, um grande economista que conheci é Vernon Smith. Aos 97 anos, ele continua forte, fazendo pesquisas em economia experimental e escrevendo livros sobre o que chamamos de humanômica. Vernon aconselha as pessoas a fazerem uma coisa profundamente, para que você saiba o que significa profundidade. Mas então leia de tudo. Isso tem a ver com trabalho intelectual, mas também se aplica ao trabalho físico. Seja um excelente carpinteiro, mas conserte uma variedade de coisas. Seja um jogador de golfe profissional, mas pratique outros esportes. Tricote com habilidade, mas experimente outros artesanatos.
Por quê? Porque você identifica analogias, entre, digamos, história chinesa e europeia, economia e linguagem. Muitos dos maiores avanços vieram de pessoas de fora que examinavam um campo, ou de um especialista profundo olhando para fora. Os descobridores do DNA incluíram James Watson, um físico, e Rosalind Franklin, uma físico-química. A “crítica textual”, inventada no século 15 para corrigir erros de escribas em textos gregos e latinos, levou no século 18 à “Alta Crítica” da Bíblia e a grandes desenvolvimentos teológicos. Caminhões transportando carvão em minas levaram às ferrovias.
Economistas chamam isso de arbitragem. Compre barato, venda caro. Pessoas normais chamam de “educar-se”.
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